Lembra-se de Maria Vieira, uma actriz baixinha que representava papéis de sopeira nas comédias de Herman José? Ao que parece a senhora tem feito carreira na praça com dichotes tresloucados e hediondos. Estava a ler tranquilamente as notícias quando me deparo com uma verdadeira bomba jornalística. Um dos títulos de respeito da comunidade dizia que “Goucha” estava farto de “Maria Vieira”.
Lamentei. O apresentador deve sair estoirado da TVI, vai a conduzir até à quinta, tem de ligar a rega, fechar o gado, ir buscar feno, esfregar o pátio, fazer dois vídeos para não desaparecer da Internet, preparar o jantar, enfim. Uma canseira. E cedo imaginei que a pequena Vieira fosse lá à quinta com Nitrato do Chile queimar a vinha e a horta, matar com 605 o pombal e o galinheiro. Imagino-a até a esconder-se numa tulha, francamente sufocante, à espera da hora de dormir, quando a senhora desatava a soprar na Vuvuzela, noite dentro.
No dia seguinte o Manuel Luís, como lhe chamam os amigos, está estoirado. A Vieira telefona-lhe a fingir que é da produção e diz-lhe que vai ter de entrevistar o bombeiro do Marco Paulo e o homem descobre-a e dá-lhe com uma sachola na cabeça, retirando logo mais dez centímetros à Vieira.
Mas, não. Não era nada disto.
A grande e tenebrosa polémica não é à moda antiga. É à moderna. A tal Vieira, que a última vez que actuou para Herman era uma personagem que estava sempre deitada no chão, muito premonitório, chaga o Manel via online.
Então a senhora espetou com uma foto do Manuel Luís a comer um pai natal de chocolate, ameaçando começar pela cabeça — tal como ia fazendo o avozinho no velho anúncio “Fantasias de Natal, Chocolate de Leite”. Ora, Maria viu ali na cabeça do santo uma glande. Pareceu-lhe que tudo à sua volta era sensualizado e, sabendo ela que Goucha há muito deixou o armário, fez-se de inquisidora e acusou: “Bonita foto de Natal”. Fui ver. A foto é parva. Os pais natais de chocolate sempre fizeram lembrar um falo acabado em glande. Sabe-se isto desde os nossos oito, nove anos. E é a esse nível, que a grave e grande polémica que a imprensa destaca, está.
A grande comunicação ao país fez-se no “Instagram”. Mas pior, é que Goucha, com idade para ter juízo, respondeu assim: “Peço desculpa Maria, não sabia que comer um Pai Natal de chocolate começando pela cabeça era um crime ao espírito do Natal. Já agora esta foto tem anos, é do tempo do Você na TV quando ias ao programa para falar dos teus espectáculos e livros. Voltando ao Pai Natal de chocolate calculo que já tu o comas, pedacinho a pedacinho, tanta a peçonha que te enche a boca. Bom Natal!”. A Vieira respondeu com uma lenga-lenga onde diz que está “contra” a comunidade LGBT (boa sorte, é que desde que existem primatas a comunidade existe. É como negar o sol), e assevera que milita no Chega e mais absurdos.
Podia continuar, mas acho que os líderes de opinião, os políticos e as estrelas da fama, em Portugal, são uns infantis. Pegam-se por coisas da fase escatológica, que devia ter sido enterrada na infância.
A resposta de Goucha é gigante e despropositada, tal como a da Vieira. Se Manuel Luís se tivesse lembrado, citava-lhe o enorme O’Neill e o ‘slogan’ rejeitado: “Bosch é Brom”.
E íamos todos à nossa vida.