Quinta-feira,Dezembro 12, 2024
6.6 C
Castelo Branco

- Publicidade -

O Polvo Unido jamais será vendido!

- Advertisement -

É nos recantos mais recônditos da pátria lusitana que se desenrola o drama tragicómico das juntas de freguesia e câmaras municipais. Ali, entre rotundas faraónicas e coretos abandonados, desdobra-se a arte da “gestão criativa”, um eufemismo requintado para o mais puro e descarado “trafulhismo”.

Os senhores presidentes e os seus adjuntos, que de tão empenhados parecem ter mestrado em *”chico-espertismo autárquico”*, transformam qualquer orçamento num origami político: dobra-se aqui, corta-se acolá, e voilà! O orçamento de 10 mil euros para pavimentar uma estrada converte-se, como que por magia, numa “consultoria técnica” adjudicada ao primo do genro, que por acaso também gere um café onde se discutem, ao som de fado e com tremoços na mesa, os destinos da nação.

Entre “ajudas de custo” para viagens a locais exóticos (curiosamente, sempre em época de feiras turísticas) e almoços “de trabalho” que envergonhariam qualquer programa do *MasterChef*, a vida política local assemelha-se a uma espécie de *clube privado*. E quando não há subsídios a desviar, inventa-se um “festival etnográfico” que ninguém pediu, mas que garantirá, no mínimo, um generoso contrato de catering para o cunhado.

A ironia mais doce, porém, está na linguagem das campanhas. Prometem-se parques, ciclovias, centros de saúde e até zonas industriais numa freguesia onde a população é constituída por 300 almas e duas vacas. É o “síndrome da megalomania rústica”, que atinge gestores locais com a mesma intensidade com que o bacalhau salgado atinge os pratos nas festas de Natal da autarquia.

Nas freguesias, então, a criatividade não tem limites. Que dizer das associações culturais que existem apenas no papel, mas recebem subsídios com a pontualidade de um relógio suíço? Ou das obras públicas que nunca saem do papel, mas cujas verbas evaporam como o nevoeiro numa manhã de Abril?

Por vezes, a criatividade destes artistas da pólis ultrapassa os limites do ético para entrar no campo do absurdo. Quem nunca ouviu falar de um campo de futebol construído onde só há pedras e cabras? Ou do famoso parque infantil num terreno inclinado que desafia todas as leis da física? E a cereja no topo do bolo: as “consultorias estratégicas” para freguesias onde o maior desafio estratégico é decidir onde colocar os bancos do jardim.

E o povo, esse espectador passivo, vai-se resignando. Afinal, entre as promessas de “modernização”, os passeios senis até Fátima patrocinados pela Junta e a “honestidade” dos políticos locais, fica sempre a sensação de que, ao menos, os de Lisboa roubam em maior escala.

Mas quando se lhes aponta a incoerência, ouvem-se argumentos de cortar a respiração: “Ah, mas o senhor presidente é bom homem, fez a festa da aldeia este ano!” Assim se perpetua o mito do autarca “paternal”, aquele que rouba mas é “um dos nossos”.

E assim, com um sorriso complacente e um fado de Amália ao fundo, continuamos a ver as juntas e câmaras como um microcosmo da velha máxima portuguesa: “Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte.”

Agora, porque o humor popular não perdoa, deixo-vos com duas quadras para animar os bailes de aldeia:

> “Na Junta falta dinheiro,

Mas sobra sempre um tacho,

O primo faz a obra inteira,

E o povo leva um penacho!”

> “Na Câmara há alegria,

É festa todo o dia,

Orçamento é fantasia,

Que dá pr’a qualquer magia!”

Venha a dança, que de seriedade, já temos as actas.

Não perca esta e outras novidades! Subscreva a nossa newsletter e receba as notícias mais importantes da semana, nacionais e internacionais, diretamente no seu email. Fique sempre informado!

Partilhe nas redes sociais:
Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista, autor, (pré-agricultor).

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques

- Publicidade -

Artigos do autor