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Guia Prático para o Apocalipse

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Ora bem, caro leitor, parece que o fim do mundo está mais perto do que a praia em Agosto com trânsito na A5. Entre os foguetes que caem no Médio Oriente e a Ucrânia a resistir como quem tenta estacionar em Lisboa, muitos já se perguntam: “E agora, o que faço?” Pois bem, o português, esse génio de improviso e alma resiliente, tem sempre solução para tudo, até para o apocalipse. Vamos então à lista do que fazer quando o planeta decidir que já teve o suficiente de nós.

1. O kit de sobrevivência nacional:

Enquanto os americanos acumulam armas e enlatados, o português vai ao essencial: azeite, um livro do Pedro Chagas Freitas e um presunto de confiança. Mas o verdadeiro segredo? Um bom chá de cidreira. É infalível para acalmar os nervos enquanto o mundo arde. Se sobrar espaço, um pacote de bolachas Maria, porque nunca se sabe quando bate aquela fome existencial.

2. O bunker à portuguesa:

Muitos de vós ignorais, decerto, que desde o governo de J.S. todas as tampas de esgoto estão desalinhadas do asfalto para ser fácil abri-las em caso de ataque nuclear. Corra para a tampa mais próxima, desça as escadas, vire à direita na placa onde disser “Bunker 25 de Abril” e aloje-se. Há pilhas Tudor, um televisor ITT, uma mangueira, um penico, um armário cheio de enlatados em calda (sim, até a sardinha é em calda) e uma chave que, misteriosamente, não se sabe para que serve. O empreiteiro esqueceu-se foi das luzes. Mas há uma daquelas lanternas de corda, comprada no chinês.

3. O fim do mundo lá chega:

Se, por algum azar, acabarmos a flutuar no espaço depois de o planeta dar o pifo, convém levar algo para matar a fome. Bacalhau seco é a escolha óbvia: leve, duradouro e com sabor a memórias de natais passados. Para acompanhar, o inseparável ovo cozido, que aquece até no frio gelado do cosmos. Se sobrar tempo, talvez um livrinho de Fernando Pessoa, para divagar enquanto se olha o vazio. E um terço, pois nunca se sabe.

4. Como escolher lados numa guerra global:

Se a coisa se agravar e Portugal for obrigado a alinhar com alguém, já sabemos como funciona: escolhe-se o lado que oferecer mais brindes. Um drone ocidental? Um fogão russo? O importante é negociar, porque por cá somos especialistas em trocar coisas que ninguém quer por algo que dá jeito. É como nos mercados da ladra, mas com geopolítica. O mais sãbio é alinhar com o Brasil e escondemo-nos entre o Chile e os nossos irmãos.

5. E se o mundo não acabar mesmo?

Bom, nesse caso, há que organizar logo uma festa. Afinal, somos portugueses: não há nada como um bom arraial para celebrar a sobrevivência ao apocalipse. Porco no espeto, alvarinho, música pimba e gargalhadas à luz das velas — porque, se o mundo quase acaba, ao menos que o fecho seja animado.

Seja o que for que venha aí, lembremo-nos: já sobrevivemos a governos duvidosos, crises económicas e finais do Benfica. O apocalipse? É só mais uma terça-feira na vida do português.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista, autor, (pré-agricultor).

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