A “tomada de decisão” é matéria vasta estudada no domínio organizacional, recebendo contributos das ciências filosóficas, comportamentais e de gestão, entre outras. “Tudo o que somos é resultado das nossas decisões”, afirmou Jeff Bezos, o fundador da Amazon, sugerindo que a vida é uma questão de escolhas e que cada escolha que fazemos, faz-nos a nós também o que (ou quem) somos.
A tomada de decisão pode ser definida como o processo de identificação, análise e resolução de problemas, procurando fazer as melhores – ou mais viáveis – escolhas. Como sói dizer-se, “não há boas soluções para problemas mal definidos”, relevando a importância da seleção das reais e prioritárias necessidades (primárias ou secundárias). O mito de que é mais fácil apontar problemas (ou criticar) do que solucioná-los, não passa disso mesmo: um mito.
“O nosso destino é moldado em momentos de decisão”, disse Tony Robbins. Por mais simples e fáceis que sejam as escolhas ou decisões, as suas consequências mudam e decidem uma vida para sempre. Obviamente que o desejável é tomar boas decisões, mas, como escreveu Theodore Roosevelt, “a segunda melhor coisa é errar e a pior é não fazer nada”, no sentido em que é preferível ousar e arriscar do que agonizar e chegar demasiado tarde.
A decisão envolve aspetos racionais – naturalmente limitados – mas também a intuição, a emoção, a criatividade, a improvisação e o acaso, sendo frequentes as decisões precipitadas, erradas ou absurdas, sobretudo em processos complexos, confusos, dramáticos, difíceis e lentos (i.e., não-padronizados, não-automáticos e não-subconscientes). Tudo vai, portanto, das caraterísticas do problema, do sujeito (ou grupo), da situação (ou contexto) e dos impactos previsíveis.
E vai mal quando o problema essencial é mal definido, quando o sujeito individual ou coletivo não tem noção das suas limitações e enviesamentos, quando a circunstância favorece ou dificulta a perceção de decisão ou quando os multíplices impactos possíveis são mal avaliados, agravando o problema – ou criando outros relevantes – ao invés de resolvê-lo. Parafraseando Albert Einstein, “deve-se encarar a realidade de forma simples, mas não mais simples do que simples”.
A título de exemplo – e para cada uma das quatro dimensões – refere-se os dilemas, as ilusões, a falácia do ‘post hoc’ e as vitórias de Pirro. Considere-se este dilema moral: De repente, uma criança atravessa-se à frente da sua viatura e os travões falham. Tem três possibilidades, 1) ou atropela fatalmente a criança; 2) ou se desvia e atropela
mortalmente vários idosos; ou 3) embate num muro, arriscando tragicamente a sua vida. Que decisão tomaria?
No campo das ilusões, considere a seguinte questão: Qual será a espessura de uma vulgar folha de papel, depois de dobrada 50 vezes (se tal fosse fisicamente possível). Escolha a solução (revelada no final desta crónica): 1) 5 milímetros; 2) 5 metros; 3) 150 milhões de quilómetros (a distância da Terra ao Sol). Por sua vez, cair na falácia do ‘post hoc’ (post hoc ergo propter hoc) – assumir uma relação de causa-efeito errada – seria pensar que o Sol nasce porque o galo canta.
Finalmente, a vitória de Pirro refere-se aos elevados custos de um triunfo ou sucesso, os quais põem em causa os ganhos alcançados. Na verdade, as vantagens ou benefícios de uma decisão, não podem ser avaliados apenas em termos brutos, requerendo-se o cálculo dos ganhos líquidos, ou seja, da diferença entre os proveitos e os custos incorridos. Porque toda a escolha implica automaticamente uma rejeição (daquilo que foi preterido ou não escolhido).
No domínio da política – governativa ou autárquica – tudo isto está presente. Só não está para os populistas que prometem o céu e a terra aos papalvos do costume. A realidade tratará de os confrontar com a sua aldrabice. O choque de realidade chegará para aqueles que confundem o papel presidencial com o de chefe do governo, ou indicam “ministros-sombra” que terão de apresentar soluções credíveis para os problemas que apontam. Cairão, então, na “armadilha da racionalidade” ou, o que é mais provável, na “armadilha da ignorância”.