Os líderes do Partido Socialista e da Iniciativa Liberal debateram esta quinta-feira e deixaram patentes as visões diferentes para o país. Habitação, impostos e tarifas foram alguns dos temas que marcaram este frente a frente. Com ambos a partilharem preocupação com a crise que o país atravessa, mas com soluções opostas: Rui Rocha diz que quer fazer crescer “o bolo” e acusa o PS de não só prever sempre um “bolo pequeno” como de querer ainda “dividi-lo por todos”. Já Pedro Nuno Santos aproveitou o slogan do adversário para afirmar que a IL quer avançar com Portugal, mas “é contra uma parede”, e usar “a motosserra para cortar o Estado social a meio”.
Pedro Nuno Santos deu “um baile” a Rui Rocha. Pedro Nuno Santos foi, claramente, o debatente mais seguro, preparado. Mais eficaz a fazer passar a sua mensagem. Embora Rui Rocha tenha conseguido passar para o seu eleitorado questões que são essenciais para a direita, como a urgência de baixar impostos, nomeadamente para as empresas, e não só para as famílias. (…) Mas depois não consegue ser eficaz a desenvolver essas ideias.
Aliás, Rui Rocha não conseguiu explicar “onde ia buscar o dinheiro para compensar as baixas de impostos”. Rui Rocha, segundo Pedro Nuno Santos, “sobre todas as questões diz que é preciso baixar os impostos. E depois não permite explicar em que medida essa baixa dos impostos, para além de numa espécie de realismo mágico em que toda a baixa de impostos é virtuosa, permite que a economia cresça”.
Contudo, como se esperava, a habitação foi, mais uma vez, um dos temas dominante no debate, desta quinta-feira na RTP1. “Temos que atacar o problema e pôr o país a crescer, as empresas a crescer, e aliviar as famílias, reduzindo impostos em áreas fundamentais”, insistiu o liberal, criticando o “bolo sempre pequeno” com que o PS se apresenta.
“Pedro Nuno Santos tem uma visão que é: o bolo é pequeno, continua sempre igual porque as previsões de crescimento do PS não passam de 2%, e ainda quer dividi-lo por todos”, afirmou Rui Rocha.
Na resposta, e recusando a ideia de que é um radical de esquerda, Pedro Nuno Santos defendeu que não há um exemplo de propostas políticas suas que, e ao contrário das da IL, possam ser apelidadas de radicais. Quais? O socialista deu o exemplo de privatizações de empresas como a RTP ou a CGD.
“Quando eu ouço Rui Rocha a dizer que quer fazer avançar Portugal, é fazer avançar Portugal, mas é contra uma parede. O programa da Iniciativa Liberal é irresponsável e é profundamente radical”, acusou.
E é, precisamente, por ser preciso “seriedade” que Pedro Nuno Santos justificou o facto de não poder “ignorar as razões que nos trouxeram a estas eleições, é relevante a postura de Montenegro porque nos trouxe aqui”. Antes, Rui Rocha criticou o facto de o adversário “não fazer outra coisa” a não ser discutir “os casos Montenegro”.
“A AD começou com o truque do IRS e acabamos com outro, muitos portugueses que estavam habituados a receber IRS, percebem agora que não recebem ou até têm de pagar. (…) Esta dimensão da seriedade é importante porque tem reflexos na forma como o Governo se comporta. Precisamos de gente séria na sala”, afirmou Pedro Nuno, lembrando a Rui Rocha que quem viabilizou o Orçamento do Estado foi o PS e não a IL.
Milei “chamado a debate”
O liberal que agora opta pela “visão do liberalismo europeu, que trouxe prosperidade a muitos países”, e sublinha que a Argentina de Milei “está do outro lado”, atacou o adversário por trazer o IRS para cima da mesa quando “não tem nenhum descida” prevista. E quanto a seriedade, Rocha sugeriu “um diagnóstico com o passado”.
“A trajetória de Pedro Nuno Santos como ministro terminou com uma crise profunda na habitação, apenas mais um quilómetro em exploração de ferrovia do que quando começou, a uma TAP com 3.200 milhões dos portugueses investidos, 500 mil euros de indeminização aprovados via Whatsapp”.
Mas o regresso ao passado não perturbou Pedro Nuno, até porque, disse, o liberal “usou o mesmo número no ano passado”. Depois, e agradecendo a oportunidade, defendeu que lançou, enquanto ministro, “o maior programa de construção pública, na ferrovia – o maior programa desde que se começou a fazer investimento ferroviário no país”, e reiterou que pegou na TAP falida e deixou-a a dar dinheiro.
AD mais próxima da IL
Em declarações já no final do debate, Pedro Nuno Santos disse não estar particularmente preocupado com a IL, mas sim com a aproximação da AD ao partido. “A IL não me preocupa profundamente, o que me preocupa é que a AD defende muitas coisas que a IL defende e afasta-se do centro, desde logo na saúde”, disse o líder dos socialistas, afirmando que “a AD está próxima do projeto mais radical que a IL tem a apresentar ao país e isso preocupa-nos”.
Pedro Nuno Santos apelou ao voto, afirmando que o PS “é a mudança segura”. “Sabemos quais são os problemas do país, temos experiência, sabemos como funciona o Estado e sabemos do que precisamos”, argumentou.
“Precisamos de transformar a economia e não é com as propostas irrealistas e fantasiosas da Iniciativa Liberal, mas com uma estratégia de desenvolvimento industrial. E precisamos de aumentar o poder de compra das pessoas”, defendeu.
“Enquanto nós queremos um programa para governar para a maioria esmagadora do povo português, a AD tem um programa que responde a uma minoria da população”, rematou.
PS só ofereceu “estagnação”
Também no final do debate, o líder da Iniciativa Liberal acusou o PS de ter oferecido ao país estagnação e defendeu uma estratégia diferente para o país que quer oferecer aceleração, focando a sua atenção na crise da habitação, crise dos salários e no crescimento económico.
Questionado sobre a eventual redução dos funcionários públicos como consequência da privatização da Caixa Geral de Depósitos, apoiada pela Iniciativa Liberal, Rui Rocha considerou que é o momento de aproveitar a reforma de milhares de funcionários públicos e substituir “num ratio de 2 por 1”.
Situação que foi aproveitada por Pedro Nuno Santos para, mais uma vez, “meter Rui Rocha no bolso”.
“Concordo com o Rui Rocha em eliminar as redundâncias”, retorquiu Pedro Nuno Santos, garantindo pedir aos ministros, se for eleito, para eliminarem todas as redundâncias. Contudo, criticou a proposta da IL de criar uma estrutura para modernizar a governação e garantir a eficiência do Estado.
“Não precisamos de criar nenhum estrutura qual motosserrra que corta o Estado Social ao meio”, salientou. “A IL quer aumentar a eficiência do Estado criando uma nova estrutura”, ironizou, apresentando as propostas em investimento do partido e um “cenário orçamental que é uma absoluta irresponsabilidade e irrealista”.
“A IL constrói um programa assente em informação errada”, adiantou, negando ter havido injeção de capital na CP – em resposta às críticas de Rui Rocha.