Aprendi, na vida, que popularidade (assente na notoriedade e simpatia) não é sinónimo de confiança (assente na credibilidade e empatia). As pessoas – na sua implícita sabedoria – ao fazerem julgamentos, tomarem decisões e encetarem comportamentos em grande medida moldados por processos automáticos e inconscientes, têm noção dessa diferença. Embora vulneráveis ao erro, acertam muito mais do que se crê, vindo o tempo muitas vezes a dar razão a quem parece não a ter.
Esta dimensão fundamental da vida humana é estudada pela Psicologia do Senso Comum, também conhecida por Psicologia Ingénua (naïf) ou do Quotidiano (Alltagspsychologie), a qual tem como caraterísticas principais ser intuitiva e acessível, basear-se em experiências pessoais e na transmissão cultural (memes, mas não aqueles dos bonecos…), não requerer rigor científico e poder assentar em erros e vieses (incluindo estereótipos e preconceitos).
Assim, a Psicologia do Senso Comum procura entender as “crenças e suposições sobre o comportamento humano que as pessoas desenvolvem naturalmente, sem base em pesquisa científica, reunindo um conjunto de conhecimentos tácitos sobre como as pessoas pensam, sentem e agem, transmitidos culturalmente e frequentemente usados para explicar e prever o comportamento dos outros e de si mesmos”.
Conheci indivíduos que eram saudados, cumprimentados ou mesmo interpelados a cada esquina pela maioria dos passantes. Julguei que essa catrefada de potenciais admiradores ou simpatizantes apoiaria ativamente o indivíduo se ele, por exemplo, se candidatasse a um cargo eletivo. Enganei-me redondamente, pois não tive em devida conta a diferença entre ser-se popular e ser-se confiado e escolhido para certa função com determinadas caraterísticas.
Ao contrário, fui conhecendo ao longo da vida muitos casos em que o indivíduo, apesar de ser conhecido, não era especialmente popular (no sentido vulgar e afetivo do termo), mas era reconhecido como o mais capaz para o exercício de determinada função, em determinado momento. Na maior parte das vezes, era também visto como autêntico ou genuíno, o que nem sempre acontece (ou muitas vezes se desconfia) com as pessoas (que se fazem) mais populares.
Em suma, a confiança – baseada na credibilidade e autenticidade – tem tudo a ver com ser-se igual a si próprio, colocar-se sempre do lado certo e justo da História, privilegiar a estratégia prospetiva e não ceder ao taticismo imediatista, e comunicar com eficácia uma imagem de verdadeira honestidade e competência. Evidentemente que uma putativa popularidade ajuda, mas, não a tendo de modo natural, franco e sincero, melhor será assumir a máxima “Que se lixe a popularidade!”.