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Uma besta na data, uma pata na tola

Ah, o glorioso 25 de Novembro de 1975, o dia em que Portugal, esse país sempre à frente do seu tempo, decidiu que a revolução tinha ido longe demais. Porque, claro, quem é que precisa de uma verdadeira transformação social e económica quando se pode continuar no bom e velho caminho da democracia burguesa? Foi mesmo uma jogada brilhante da direita, que não hesitou em dizer que estava a salvar o país do “caos”. Afinal, trabalhadores a ocupar fábricas, sindicatos a ter voz e o povo a ousar sonhar com uma sociedade mais justa e igualitária? Que horror! Melhor mesmo voltar ao conforto das elites no poder, que sabem tão bem o que é melhor para todos.

Esta segunda, que devia ser de luto nacional, a Assembleia da República entra numa palhaçada atroz e de fazer chorar pelos cantinhos: vão deitar louvas à data os partidinhos que sempre defenderam os latifundiários brancos de Angola e se assustavam com o “homem novo”. Mas havia que deitar culpas, apesar de toda a elite lisboeta saber bem o que se ia passar. Ao Hotel Saraiva de Carvalho, que tinha tantos quartos como ideologias, só lhe faltou colar cartazes a dizer: “Adere ao 25 de Novembro, que desde ontem o PCP não quer nada connosco”. E não quis, está escrito pelo punho de Álvaro Cunhal.

E o melhor de tudo foi como a esquerda radical foi retratada: perigosos subversivos que queriam levar Portugal à bancarrota. Porque, sim, todos sabemos que o verdadeiro perigo para a estabilidade de uma nação é dar poder ao povo, e não as décadas de fascismo que precederam a Revolução dos Cravos. No fundo, o 25 de Novembro foi aquele empurrãozinho necessário para garantir que a revolução não estragasse a “ordem natural das coisas”. Viva a contenção das mudanças! Porque revoluções são óptimas, mas só até um certo ponto — o ponto em que o status quo começa a sentir-se desconfortável.

No fim desse “dia escuro e sujo”, nasceram os piores grupos terroristas que Portugal albergou. A maioria de direita, que matava a eito e não pedia perdão. Quando as FP25 mataram, sem querer, uma criança de berço, acabou-se tudo, tal a culpa que para ali ia. Mas o MDLP, o ELP e o Maria da Fonte passaram pelos pingos da chuva e hão-de ser aplaudidos esta sexta na burricada do Parlamento.

O que queriam, os canalhas? Opunham-se às mudanças políticas e sociais trazidas pela Revolução dos Cravos, particularmente a descolonização, a nacionalização de indústrias e a crescente influência da esquerda. Estes grupos adotaram táticas de violência e sabotagem, tentando conter o avanço das forças revolucionárias. Choravam de cordeiros, mordiam como lobos.

Custava, e custa muito, ir a caminho de uma sociedade livre e justa. Agora voltam atrás e querem outra vez os militares, na pessoa do Almirante Seringa. Que Eanes os tenha. Vota Seringa. Regressamos ao tempo da sepultura e dos loucos à solta. O Pe. Max que o diga.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista, autor, (pré-agricultor).

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