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A Apologia da violência de Márcio Carvalho

No Jardim Gulbenkian

No coração da cidade de Lisboa, o Jardim Gulbenkian, frondoso, envolvente e cheio de recantos arrebatadores, oferece-nos espaços e ambiências que celebram a paisagem e a natureza, e proporcionam momentos de reflexão, de partilha, de repouso, de tranquilidade e de paz. Por isso surpreende ali negativamente a instalação do artista plástico Márcio Carvalho, verdadeira apologia da violência, do ódio e da segregação racial.

No Jardim Gulbenkian
Jardim Gulbenkian Foto:DR

Lugar(es) é uma obra colaborativa site-especific que resulta da intervenção de Márcio Gonçalves em quatro escolas primárias de Lisboa, que visa inverter simbolicamente a dinâmica de poder da sala de aula, dando todo o protagonismo às crianças que intervêm na instalação, através da projecção das suas imagem e das suas vozes, em declarações tão ricas como ingénuas acerca de um conceito intrincado como o de LIBERDADE.

No interior, a par dos desenhos de alunos, é exibida uma obra em grande escala de Márcio Carvalho, que representa a destruição do Padrão dos Descobrimentos, alegadamente para defender a «necessidade da existência de narrativas plurais e diversificadas em substituição de uma História canónica oficial».

No Jardim Gulbenkian
DR

Essa destruição é operada por uma série de judocas negros, que derrubam violentamente cada uma das personagens que se alinham no padrão, com o pretexto de utilizar o «peso do monumento e o seu legado colonial para desafiar a memória coletiva e promover novas (e mais justas) relações entre o passado, o presente e o futuro».

A questão que se coloca desde logo é saber como pretende Márcio Carvalho superar o paradoxo em que a instalação o coloca. Como se podem promover mais justas relações entre os diferentes tempos históricos, se o que se promove é a lei de talião, e uma violência perfeitamente gratuita e racista entre cada um deles.

Por outro lado, a forma como o artista faz a ligação entre os diferentes planos da obra é ainda mais infeliz, ao colocar os alunos a fazer considerações emprestadas sobre os descobrimentos portugueses, por, alegadamente, terem promovido o racismo, o esclavagismo e o colonialismo.

À boleia de um modismo radical iconoclasta, de que o deputado socialista Ascenso Simões foi corifeu, ao defender publicamente a demolição do Padrão dos Descobrimentos, Márcio Carvalho revela uma confrangedora fragilidade conceptual, que apenas sobrevive à custa de lugares-comuns fáceis de pronunciar e de desenhar, na cada vez mais rasa tábua da aprendizagem da História.

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Pedro Rego
Pedro Rego
Advogado. Escreve artigos sobre diversas temáticas para o jornal ORegiões.

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