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As faces da Política

A Política, como muitas outras atividades e organizações, é multifacetada e paradoxal. Tem, como se sabe, um lado competitivo, duro e ingrato, em que um determinado objetivo deverá ser alcançado e um determinado percurso – só parcialmente planeado – terá de ser percorrido e completado com êxito (total ou parcial). Completar esse percurso e vencer essa competição é, geralmente, um processo ciclópico. Não é fácil chegar ao fim e, muito menos, à frente dos outros competidores. Aliás, frequentemente se fica pelo troço inicial, havendo no entanto quem, julgando o sucesso impossível, desista perto da vitória e acabe por “morrer na praia”.

Num certo sentido, a Política assemelha-se a uma ‘maratona’ e não a um ‘sprint’: quem acelera na política, julgando que a distância é curta, perde. Assemelha-se, também, a uma estafeta e não a uma prova individual: quem corre na política de forma individualista, ignorando a equipa, perde. Assemelha-se, finalmente, a uma prova de obstáculos e não a uma corridinha em pista rasa: quem corre na política, acreditando na inexistência de barreiras e fossos, perde. A Política assemelha-se a estas e muitas outras provas (e provações), não deixando no entanto, metaforicamente, de fazer jus ao lema olímpico citius, altius, fortius (mais rápido, mais alto, mais forte).

A Política é conceptualmente “fofinha” e autogratificante– o cuidar do bem comum – mas a sua ‘praxis’ revela-se frequentemente dura e ingrata, expressando a complexidade – e por vezes o pior – da natureza “humana”: atitudes desleais e divisionistas que corroem a unidade e coesão, prevalência de interesses egoístas na partilha ou utilização de recursos públicos, emanação de sentimentos mesquinhos e abusos de autoridade inerentes a poderes absolutos, incompetência “bem-intencionada” que sustenta a tomada de decisão estratégica ou de forte impacto, ou sequestro de carteiras, mentes e corações, através de abominável tráfico de influências (de cândidos jeitinhos a corrupção pura e dura).

A Política precisa de gente boa e sensível, inocente até, capaz de sentir empatia e compaixão, mesmo que não possua experiência política ou de vida. Mas também exige gente temperada e de “barba rija”, com elevada maturidade, que – não deixando de ser boa e sensível – é capaz de resistir e recuperar rapidamente das dificuldades e abalos que lhes são impostos (de fora ou de dentro da equipa, sendo estes os mais dolorosos). Não é fácil competir nesta corrida, sobretudo quando as regras do jogo democrático não são respeitadas e a natural e desejável alternância política é obstruída por quem age tendo como principal intuito manter-se no poder a todo o custo.

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Política é pessoas, com todas as particularidades que as fazem únicas e diversas. É preciso comunicar com o todo comunitário, mas também com diferentes segmentos e, ultimamente, com cada um dos indivíduos que compõem o eleitorado, priorizando os eleitores-alvo previamente identificados e para os quais se definiu um determinado posicionamento (imagem que se pretende ter nos eleitores-chave). Essa comunicação deve ser permanente, apostando nas vantagens da abordagem relacional sobre a transacional (estrita e episódica), e, tanto quanto possível, de proximidade e de afetos, buscando o envolvimento e a participação de todos, atribuindo a cada um o papel mais adequado e que mais o realiza.

Em Abrantes, o Movimento ALTERNATIVAcom tem-se empenhado, nos seus quase cinco anos de existência, em valorizar o lado nobre da política, defender e reforçar a democracia e promover a cidadania livre e participativa. Nos órgãos autárquicos, reconhecem-nos a combatividade política, com elevação nos modos e profundidade nas ideias. Na comunidade abrantina, além da comunicação diária que realizamos, distinguimo-nos (só para dar um exemplo) pela realização de um encontro anual de debate aberto e plural, o Fórum Democrático – Onde Vozes Diferentes Se Fazem Ouvir, cuja terceira edição terá lugar já no próximo dia 16 de novembro, a partir das 14H30, no Auditório da Biblioteca Municipal António Botto (com entrada livre).

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José Nascimento
José Nascimento
Tem 68 anos e vive na aldeia de Vale de Zebrinho (Abrantes). Reformado do ensino superior, onde lecionou disciplinas de gestão e psicologia social, dedica o seu tempo à atividade cívica e autárquica. É, também, membro do núcleo executivo do CEHLA – Centro de Estudos de História Local de Abrantes (editor da Revista Zahara). Interessa-se pelas dinâmicas políticas e sociais locais e globais, designadamente pelos processos de participação e decisão democráticos.

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