Hoje, ao olharmos para as comemorações do 25 de Novembro, uma data que ainda divide paixões e interpretações no país, vemos um reflexo curioso da política portuguesa: um território onde os gostos e as memórias históricas se misturam com as manobras do presente. No interior, como no resto de Portugal, os temas que dividem a nação são também pretextos para medir forças. Mas, enquanto uns discutem o significado do passado, muitos já preparam a batalha pelo futuro: as eleições autárquicas de 2025
Embora ainda estejamos a meses do início oficial da campanha, nos bastidores já fervilham movimentações. A política local, como sempre, é um teatro de proximidade, onde as palavras têm menos peso do que os apertos de mão e os favores antigos. E as artimanhas começaram: os presidentes impossibilitados pela limitação de mandatos ajustam as peças no tabuleiro, os partidos afinam as máquinas de propaganda, e os independentes — frequentemente ex-partidários mascarados de novidade — já começam a reunir assinaturas.
O interior do país é um palco especial nesta dinâmica. Longe do frenesim mediático das grandes cidades, as redes de influência pessoais têm um peso desproporcional, e a renovação política, quando existe, é mais cosmética do que real. O presidente não se pode recandidatar? Não faz mal, há sempre o braço-direito, a esposa, o primo ou o antigo motorista para dar continuidade ao “projeto”.
O 25 de Novembro, que relembra a viragem democrática de 1975, é assim um paradoxo nesta altura do ano. Celebramos o pluralismo e a liberdade de escolha, mas entramos, simultaneamente, numa época de truques e malabarismos para perpetuar estruturas de poder que há muito deixaram de servir as populações.
Enquanto se preparam inaugurações apressadas de rotundas e eventos populistas para abrilhantar currículos autárquicos, o cidadão comum observa. Mas será que realmente decide? Ou limitará a sua escolha ao nome familiar, ao sorriso conhecido, ao favor recebido?
As autárquicas de 2025 ainda estão distantes no calendário, mas no terreno já começaram. Os bastidores já fervilham. A democracia, como sempre, está em movimento. Resta saber: será para a frente ou em círculos?
Autárquicas 2025: A Dança das Cadeiras e o Teatro Democrático
As eleições autárquicas de 2025 prometem, mais uma vez, ser um espetáculo digno de aplauso — não pela inovação ou qualidade das propostas, mas pela criatividade com que os partidos e movimentos independentes vão contornar os obstáculos legais e tentar perpetuar os seus feudos. O cenário é já familiar: 105 presidentes de câmara não poderão recandidatar-se, vítimas da temida (ou bendita, dependendo da perspetiva) limitação de mandatos.
Esta limitação, à primeira vista um mecanismo saudável para impedir a criação de pequenos “reinos autárquicos”, revela-se muitas vezes um exercício de cosmética política. O líder impossibilitado de se recandidatar é, na maioria dos casos, substituído por um familiar, um vice-presidente ou uma figura submissa, garantindo que a influência do “patrão” permanece intocada. É uma troca de cadeiras com final previsível: o controlo continua, os votos seguem o nome e não as ideias, e a renovação, na prática, é um mito.
Os números são claros: 54 presidentes barrados são do Partido Socialista, 30 do PSD, 12 da CDU, 3 do CDS-PP, 1 do JPP e 5 de movimentos independentes. Contudo, a verdadeira dança política começa quando se analisam as candidaturas que surgirão. A Lei Orgânica nº 1/2001 permite um leque diversificado de opções: partidos, coligações e grupos de cidadãos. Este último grupo, por sinal, tornou-se a ferramenta predileta dos descontentes com as máquinas partidárias e dos ex-partidários que, convenientemente, redescobrem a sua “independência” quando não encontram lugar nas listas.
Há também a questão da motivação: será que a limitação de mandatos está mesmo a funcionar como pretendido? Ou simplesmente mudou o jogo para um espetáculo de marionetas em que os cordéis são invisíveis mas as intenções óbvias? A população, que deveria ser o verdadeiro foco, raramente é consultada sobre o que quer de facto para o seu concelho ou freguesia.
O espetáculo promete. Em setembro de 2025, preparemo-nos para as promessas vãs, os sorrisos fotogénicos e os slogans genéricos. No fim, talvez não ganhe o melhor programa, mas sim o melhor marketeer. O voto é livre, mas a memória é curta. E enquanto isso, Portugal continua à espera que o sistema sirva os cidadãos e não os atores deste teatro recorrente.
Afinal, quem verdadeiramente se recandidata: o projeto ou o poder?