Segunda-feira,Abril 7, 2025
18 C
Castelo Branco

- Publicidade -

Abril, Cravos e Palas: A Democracia com Manual de Instruções Perdido

Em Abril, celebra-se a liberdade. Em Maio, testa-se o que resta dela.

Já lá vão mais de 50 anos desde o 25 de Abril, dia em que o país trocou o medo pelos cravos e a censura pelos microfones. Ganhámos o direito ao voto, à palavra, à crítica. Mas passadas tantas décadas, há quem use esses direitos como se fossem herança velha: guardados, mas pouco mexidos.

Este ano, com eleições Legislativas marcadas para 18 de Maio, voltamos ao ritual do costume. Os partidos saem à rua com promessas lavadas, bandeiras ao vento e sorrisos prontos para as selfies. É tempo de discursos inflamados, de debates mornos e de “propostas” que só duram até à noite das eleições. No fundo, é como o Carnaval — mas com gravatas e tempo de antena.

E no Portugal profundo — esse interior tantas vezes esquecido — a política ainda vive entre o favor e a fé. Aqui, votar não é tanto escolher como seguir. Seguir o que o pai votava, o que o padre sugere, ou o que o senhor da junta diz que é “bom para a terra”. Não se vota em ideias, vota-se por hábito. Questionar é mal visto, pensar dá trabalho.

Nos últimos tempos, têm aparecido algumas caras novas: candidatos independentes, fora dos partidos tradicionais, com vontade de fazer diferente. Muitos trazem consigo uma energia rara, um idealismo que cheira a fresco. Mas depressa se percebem as dificuldades. O sistema é apertado. Os jogos de bastidores começam cedo. Há telefonemas com “dicas”, almoços com “conselhos”, convites para “colaborar”.

E quando se dá por isso, até o mais bem-intencionado começa a andar à boleia das estruturas que dizia querer mudar. A independência, afinal, também tem prazo de validade.

Mas se os políticos falham, é porque lhes damos espaço para isso. A responsabilidade não é só de quem se candidata, é também de quem vota — ou pior, de quem não vota. Continuar a escolher com base em simpatias antigas ou favores prometidos é manter tudo igual. É aceitar que nada mude, mas esperar resultados diferentes.

Portugal precisa de eleitores atentos, exigentes, livres. Gente que não vote como quem escolhe o clube da terra, mas como quem escolhe o rumo da sua vida. Porque é disso que se trata: do nosso presente, do futuro dos nossos filhos, da terra onde vivemos.

Abril abriu portas. Cabe-nos, agora, atravessá-las com os olhos bem abertos — e as palas bem longe do boletim de voto.

- Publicidade -

Não perca esta e outras novidades! Subscreva a nossa newsletter e receba as notícias mais importantes da semana, nacionais e internacionais, diretamente no seu email. Fique sempre informado!

Partilhe nas redes sociais:
Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques

- Publicidade -

Artigos do autor

Não está autorizado a replicar o conteúdo deste site.