Estala a polémica, radares censores botam na interweb vídeos de baixa qualidade e acusam, o povo, à uma, absorve o verbalismo e aplaude com as mãos para dentro, para não parecer matreiro ou mal educado. O líder do Livre, Professor Doutor Rui Tavares proferiu A palavra em directo na RTP1, à hora de jantar, numa daquelas entrevistas de dez minutos que nem passam a mão pelo pêlo aos entrevistados – a não ser que seja o PCP. Aí esperam logo garfadas até sangrar.
A sociedade revoltou-se de tal forma que veio a correr para espalhar a palavra do Senhor Professor. A palavra, como todos sabeis, é a grande busca da humanidade crente. O princípio era o verbo e o Professor Doutor encontrou-a e expeliu-a com o desdém e a fúria de um herege, de um ateu, de um socialista jacobino, de um diabo, de um Lúcifer que, ao trazer a luz, iluminou o verbatim de João César Monteiro.
José dos Santos Rodrigues nem tremeu. Farto da palavra anda ele, principalmente nas suas costas. Dizem: “Com aquele gajos estamos todos [inserir vocábulo]”. Por isso nem trinou, nem fez o normal falsete de diva amuada. Como o Professor Doutor é de Esquerda e o Santos Rodrigues tem uma sanha a esses vermelhos. Insistiu com uma pergunta qualquer, em vez de parar tudo, pedir desconto de tempo e ir ao VAR confirmar se Rui Tavares tinha mesmo tido o lapso Freudiano que ribombava ainda nas hertezianas e nas opticas, bem perceptível: quer nas Grundig Super Colour ou nas Samsung com tecnologia QLed Quantas São!
Tavares, pá. A minha mãe, que julgo sempre ter votado PS depois do fim do Tengrarrinha, até te achava graça. Que foste fazer, Sepúlveda da concordata das esquerdas? Como pode a senhora minha mãe votar agora em ti se, apesar de dizeres a verdade, trazes essas coisas para os televisores das pessoas. Sabes, meu estimado Rui – sabes, pois -, Portugal ainda tem a mania das aparências. E elevou-te ao trono de um Luiz Pacheco, de um Mário Crespo, de um Paulo Correia e de um Diogo que agarravam a faixa contra o Cavaco em 1992 contra as propinas e lá tinham o termo maldito escrito na faixa da manif. És o oráculo de Belfo, pois, na transcrição da frase, aparece a palavra “feridos”. O que me ri. Gravei, enfiei aquilo num programita do som que uso para as montagens, uma coisa a dar para o profissional, e é clara a tua vontade de dizer aquilo. E não é “feridos”, felizmente. Não disseste “estamos todos bem feri-dos”. E ainda bem. Alguém que diga uma boa verdade nessa coisa das televisões. E ao menos que seja na pública — este mês até pago com gosto e arreganho a taxa, só pelo belo serviço que ouvi.
O leitor já percebeu, mas não pense que vou repetir aqui a palavra que o Professor Doutor disse na televisão. Ele pode: tem estudos. Eu não, ainda hoje estou para saber como me deixaram passar num curso que era uma monotonia. Aprendi mais com a minha avó a matar coelhos com uma cajadada e um esticão do que com a universidade. Os coelhos, quando a minha avó Dias os escolhia, sabiam logo que estavam, de facto, bem “feri-dos” da vida.
Mas faça a leitora a sua audição e leitura. Faça o leitor a sua verificação dos factos, por favor. Oiça o Professor Doutor Rui Tavares e decida: estamos ou não estamos todos “f*didos”? Acho que estamos.
Rui Tavares na RTP “estamos fodi***”