André Ventura esteve no canal Now e, durante duas horas, mostrou uma nova postura política, tentando passar a mensagem: “Bom, atenção, nós somos um partido democrático, temos de respeitar as regras democráticas”. Mas isso não quer dizer que André Ventura esteja mais moderado. Está, sim, numa nova fase de crescimento, à caça de novos eleitores. Por isso, poupou os ataques a Montenegro e “bateu forte e feio” no PS.
André Ventura assumiu esta terça-feira que “está mais perto” de voltar a ser candidato presidencial. “Estou mais perto que essa decisão possa ser favorável do que há duas ou três semanas”, afirmou em entrevista ao canal Now, após o canal ter revelado o barómetro da Intercampus que lhe dá 14% de intenções de volto, mais quatro pontos percentuais a mesma empresa lhe dava na última sondagem.
Com esse valor, Ventura ultrapassa António José Seguro, que desceu para 13,7% num estudo que é liderado por Henrique Gouveia e Melo, com 18,5%, seguido de Marques Mendes, com 17,2%.
“Os candidatos que têm aparecido ou são opções dos sistema ou opções de refugo ou segunda linha”, considera Ventura para quem “o espaço da direita política e o espaço do antissistema” ainda não tem um candidato presidencial. “Estou ainda a fazer essa avaliação”, acrescentou.
Apesar de salientar que não tomou para já uma decisão definitiva, afirmou: “hoje estou mais perto que essa decisão possa ser favorável do que há duas ou três semanas, em breve tomarei uma decisão sobre isso”.
O presidente do Chega reafirmou que o partido “deve ter um candidato próprio” nas eleições presidenciais e acrescentou que, até agora, ainda não identificou nenhum candidato que preencha o espaço político que represente os valores que o partido defende, falando nas lutas contra a corrupção, contra a imigração descontrolada e por mais segurança.
Ventura explicou a principal entrave para avançar como candidato a ocupar o Palácio de Belém: “entendo que não é o cenário mais favorável e mais positivo, que um líder da oposição seja simultaneamente candidato a Presidente da República”, sendo que espera “corporizar a alternativa que o País precisa”.
Almeida Garrett tinha razão
Na entrevista ao canal Now, André Ventura confirmou aquilo que o escritor Almeida Garrett dizia: “o povo está são, nós (as elites políticas) é que somos corruptos, pensamos saber e tudo ignoramos”. Sem desmentir o autor de “Viagens na Minha Terra”, André Ventura manteve a “coerência” do seu discurso anti-sistema, culpando todos os restantes partidos, principalmente o PS e o PSD, de terem contribuído para a corrupção existente em Portugal.
Mas, apesar desses pequenos “devaneios” que fizeram lembrar o arruaceiro André Ventura de “tempos antigos”, o líder do Chega saiu da Now com a noção que conseguiu fazer passar a imagem que “o Chega tem de deixar de ser um partido de protesto, que pode continuar a ser, mas também tem a responsabilidade de ser um partido de governo e de apresentação de soluções”.
Na verdade, Ventura moderou-se ao meter na gaveta as propostas inconstitucionais do início da sua carreira, mas manteve a faceta, o tom e a retórica de um partido radical de protesto, enquanto apresentou “soluções” e medidas.
Incêndios
O presidente do Chega defendeu, de uma forma moderada, mas populista, que os incendiários deveriam ser condenados a 25 anos de prisão “no mínimo”. “Não podemos continuar a ter incendiários à solta em meses de calor.”
E sobre o projeto de lei apresentado pelo PAN, que prevê que todos os condenados pelo crime de incêndio florestal que estejam em liberdade sejam obrigados a utilizar pulseira eletrónica, considerou: “A pulseira eletrónica não impede” que as pessoas provoquem incêndios.
Ainda no que toca aos fogos, lamentou a remuneração dos bombeiros: “Não podemos ter bombeiros a ganhar três euros à hora. Até um preso ganha mais.” Criticou o silêncio e a “arrogância” da ministra da Administração Interna e disse que não se arrepende de ter chamado o primeiro-ministro de “tonto”, e avançou que o Chega “vai exigir que o Parlamento investigue os incêndios”. “Vamos investigar quem anda a lucrar com os incêndios.”
Apesar das críticas à justiça, André Ventura elogiou o trabalho e esforço dos agentes de polícia em Portugal durante os incêndios. “A PJ, a GNR e a PSP estão a fazer um trabalho de facto notável neste momento, que é prender alguns incendiários, mas foram a tribunal e ficaram em liberdade”, disse.
Numa de populismo a sério, o líder do Chega considerou que a festa do Pontal não deveria ter acontecido, dado o cenário que Portugal enfrenta com o combate aos incêndios.
“Eu acho que não devia ter existido a festa do Pontal. O Chega teria uma rentrée que não vai ter porque as pessoas estão a lutar contra o fogo e a sofrer. Vamos fazer uma entrega de bens aos bombeiros”, vincou.
André Ventura não se mostrou, assim, surpreendido com o facto de o primeiro-ministro ter sido vaiado durante o funeral de um bombeiro que morreu no domingo no combate às chamas, esta terça-feira. “É normal que haja uma revolta nas pessoas em relação a isso. (…) Foi um erro brutal”, acrescentou.
Saúde
Mas as frases populistas, daquelas que toda “a gente quer ouvir”, não acabaram por aqui. Por exemplo, na saúde, André Ventura começou por dizer que se fosse primeiro-ministro acabava “com a direção executiva do SNS”. “Lembram-se de alguma coisa que tenha sido anunciada pelo diretor executivo do SNS? Esse é o problema do País: é criar tacho atrás de tacho”. Criticou o alegado acesso facilitado que os imigrantes têm ao SNS. “Não podemos continuar a ter grávidas do Bangladesh a vir para cá ter filhos.” E sugeriu: “A solução era não termos deixado entrar tanta gente (…). [Era] os imigrantes subscreverem seguros de saúde.”
Já na Economia, deixou claro que o Orçamento do Estado “não está aprovado”. Lembrou que um dos objetivos do Chega é aumentar o salário nacional para 1000 euros até 2026, e questionado sobre se esta medida seria viável respondeu: “O que não é viável é as pessoas não conseguirem pagar uma casa”.
André Ventura irá apresentar ao País os nomes que irão compor o ‘Governo Sombra’, do qual já falou tantas vezes, no dia 18 de setembro. O grupo escolhido pelo líder do Chega tem como objetivo escrutinar e fiscalizar as atividades do atual Governo, mantendo-se pronto para governar o País, quando necessário.