O Cine-Teatro Avenida de Castelo Branco foi palco de uma noite memorável no último sábado, onde a voz marcante e eloquente do fadista Camané encheu a sala quase esgotada com uma energia única. Acompanhado por um trio de músicos excepcionais, no Contrabaixo, Carlos Bica, na Guitarra Clássica, Carlos Manuel Proença e na Guitarra Portuguesa, José Manuel Neto, o artista apresentou um repertório que atravessou as emoções, desde a melancolia até à alegria contagiante
O concerto teve início com uma interpretação magnífica do tema “Que Flor Se Abre No Peito”, uma composição de Pedro Abrunhosa que mergulha nas tradições do fado, alternando entre tonalidades menores nas estrofes e tons maiores no refrão, uma jogada musical que ressoa profundamente com o público. Em seguida, Camané apresentou “Amar Não Custa”, um fado alegre que trouxe vivacidade ao espetáculo.
Os temas do último álbum de Camané, intitulado “Horas Vazias” e gravado em 2021 pela Warner Music Portugal, foram destaque ao longo da noite. Pontuando a apresentação com algumas músicas de anos anteriores, como “Ela Tinha Uma Amiga”, de tonalidades cromáticas, o fadista proporcionou uma viagem pelos seus sucessos e evolução artística ao longo do tempo.
Momentos emocionantes surgiram com a participação especial de Concentrus Ensemble Per Tempora Ensenble, um quarteto de violinos, que acompanhou Camané em “Alcântara”, adicionando uma camada extra de profundidade e beleza à performance. O destaque do concerto veio com a interpretação do fado “Sei de Um Rio”, uma melodia introspetiva com harmonias suaves, enriquecida pelos arranjos dos violinos, que transportou a audiência para um estado de contemplação profunda: « Sei de um rio…Sei de um rio, Em que as únicas estrelas, Nele, sempre debruçadas, São as luzes da cidade…»
Camané reservou uma surpresa para o final, ao convidar o Orfeão de Castelo Branco para se juntar a ele no palco para uma interpretação arrebatadora de “Havemos de Nos Ver Outra Vez”. O coro começou sua participação do fundo da sala, surpreendendo o público antes de se dirigir ao palco para um clímax emocionante, encerrando assim a noite em uma apoteose de comunhão total com a plateia.
A história de Camané, que despertou para a música através da coleção de discos de seus pais e fez sua primeira interpretação pública no restaurante Cesária, em Alcântara, adicionou uma camada extra de significado ao concerto, demonstrando a jornada única e autêntica do artista até se tornar um ícone do fado em Portugal.
Com uma carreira marcada por prémios e reconhecimento, incluindo o Prémio Blitz para Melhor Voz Masculina Nacional em 2001 e vários Globo de Ouro, Camané continua a encantar e emocionar audiências em todo o país. O seu legado musical é celebrado através de uma discografia impressionante, que inclui álbuns aclamados pela crítica como “Infinito Presente” e “Camané – Canta Marceneiro”.
O concerto no Cine-Teatro Avenida não apenas celebrou a riqueza e a tradição do fado, mas também reafirmou o lugar de Camané como um dos maiores expoentes desse género musical tão querido pelos portugueses. Com sua voz única e sua entrega apaixonada, ele continua a emocionar e inspirar, deixando uma marca indelével na alma daqueles que têm o privilégio de ouvi-lo.