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Lutem, defendam a vossa terra e a vossa gente!

Mete-me impressão a indiferença e passividade com que muitas pessoas – sobretudo as que possuem maior capacidade e/ou responsabilidade social – assistem à contínua decadência da sua aldeia, vila, cidade ou concelho (O lume brando não lhes permite perceber? Não acreditam nas estatísticas?). E apetece-me perguntar: Porque não lutam? Porque não defendem a sua terra e a sua gente? Este comportamento não pode ser natural, pois as pessoas geralmente empenham-se em melhorar os ambientes em que vivem ou trabalham. Por que se afastam e anulam? Porventura ignoram que têm deveres para com a comunidade, a quem devem parte do seu tempo e do seu saber?

Tento perceber porquê e fico com a impressão de que muitas dessas pessoas está cansada de ser ignorada e maltratada por poderes instalados e entrincheirados. Ou, então, não acredita na mudança, na possibilidade de resolver problemas – conservando e melhorando – e de crescer e desenvolver – inovando e transformando. Ou, ainda, de que não acreditam em si próprias e na comunidade, na capacidade individual e coletiva de iniciar, conduzir e alcançar, com eficácia, as mudanças desejadas. Dizem os especialistas que temos falta de “locus de controlo interno” e sentimento de autoeficácia. Será essa a principal razão?

Parece-me que essas pessoas entendem que o declínio é um destino inevitável, escrito nas estrelas, porventura até merecido (como se de um castigo coletivo se tratasse), não se sabe bem porquê. Mesmo que o fosse (mas não é), haveria sempre a inevitabilidade de tropeçar nas nossas escolhas e decisões… Mas não, a maioria das pessoas não participa, não luta e não tenta a mudança na sua comunidade. Que fado é este que nos mantém atolados e a definhar? O que trava o direito à indignação? O que impede a adoção de formas legítimas de resistência e contestação? É que nem seria preciso muito para inverter esta tendência negativa…

Tenho para mim que tal se poderá dever, por um lado, ao condicionamento exercido por poderes que, na sua práxis, pouco ou nada têm de democráticos (apesar de jurarem que o são) e, por outro lado, a um défice de compreensão e/ou erradicação das causas do declínio. De forma simples, diria que estas causas são essencialmente três: a mentalidade (ou cultura) dominante, a indiferença (associada a escassa empatia social) traduzida em falta de participação (e bom debate), e a burocracia e corrupção existentes (a grande e a pequena). Sinteticamente, o que está em causa nestes três fatores que tolhem o progresso e desenvolvimento?

Rezam os estudos que veneramos o poder e a hierarquia, evitamos os riscos e a incerteza, valorizamo-nos na pertença (diluindo a responsabilidade no coletivo) e distraímo-nos com os processos (perdendo o foco nos resultados e objetivos). Que somos comodistas e não sabemos debater (e aprender) – escutando o outro, argumentando com clareza e valorizando a diferença de opiniões e pontos de vista. Que a burocracia nos esmaga e a corrupção nos suga (os parcos recursos), enquanto nos menorizamos perante um Estado supremacista (omnipresente, omnisciente e omnipotente).

Todavia, temos provas de que o “impossível” afinal é possível, os problemas podem ser resolvidos e o desenvolvimento (equilibrado e sustentável) é uma oportunidade a agarrar. De que o declínio pode ser travado e revertido, a força do coletivo (bem liderado) é poderosa e imbatível, e a burocracia e corrupção podem (e devem) ser radicalmente diminuídas. Então, e como? É “simples”, mas não se faz (porque não há vontade): Devolvendo Abril aos cidadãos, ou seja, revendo e reforçando os mecanismos democráticos, cumprindo a letra e o espírito da Constituição. É isto que o Movimento ALTERNATIVAcom, dando o exemplo, exige a nível local e nacional.

Em suma, na minha opinião o problema é político e reside na falta de (boa) democracia – ou, se quiserem, no pântano e nevoeiro democráticos que nos assolam – residindo a solução, consequentemente, no reforço da (qualidade da) democracia, isto é, em termos mais (alargar) e melhor (aprofundar) democracia. Recuperada a confiança dos cidadãos nas instituições democráticas – e na própria democracia – a cidadania livre e participativa acordará da letargia cívica a que se remeteu, recuperando a vitalidade indispensável ao seu empoderamento e à sua capacidade de transformação e realização. Este processo ocorrerá de baixo para cima, alimentado pelas lutas justas em defesa das nossas terras e das nossas gentes!

A todos desejo Boas Entradas em 2025 e um Excelente Ano Novo!

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José Nascimento
José Nascimento
Tem 68 anos e vive na aldeia de Vale de Zebrinho (Abrantes). Reformado do ensino superior, onde lecionou disciplinas de gestão e psicologia social, dedica o seu tempo à atividade cívica e autárquica. É, também, membro do núcleo executivo do CEHLA – Centro de Estudos de História Local de Abrantes (editor da Revista Zahara). Interessa-se pelas dinâmicas políticas e sociais locais e globais, designadamente pelos processos de participação e decisão democráticos.

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