Em tempos de crise política, onde a procura por soluções criativas e eficazes atinge níveis inéditos, o Presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco, Leopoldo Rodrigues, tem se destacado pela sua capacidade única de inovar em cargos, funções e… assessores. Em pleno fim de mandato, a menos de um ano das eleições autárquicas de 2025, o senhor Presidente decidiu dar mais um passo em direção à sua própria revolução política: nomeou uma nova assessora, Natacha Neto Cerdeira, elevando o número de assessores de 4 para 5. Mas, como se o aumento da comitiva já não fosse suficiente, o ilustre Presidente não parou por aí e emitiu a Ordem de Serviço nº 2/2025, concedendo aos seus cinco assessores plenos poderes, tal e qual como se fossem os primeiros-ministros de uma mini-nação chamada Castelo Branco.
Se à partida a criação de um gabinete com um número tão generoso de assessores poderia parecer excessiva para uma cidade como Castelo Branco (que, convenhamos, não é exatamente um centro nevrálgico de decisões políticas de dimensão planetária), a Ordem de Serviço nº 2/2025 de 24 de janeiro de 2025, veio dar um novo brilho a esta “proclamação do poder” — os assessores podem agora, com um sorriso de quem sabe que é alguém, mandar em tudo e todos. Dirigentes máximos dos departamentos, divisões e gabinetes da Câmara Municipal? Não têm mais volta a dar. A partir de agora, basta uma diretriz do Gabinete de Apoio à Presidência, e o resto da Câmara segue sem questionar. Parece um poder absoluto, se é que esse termo não é demasiado forte.
Este tipo de “governo paralelo”, no qual a palavra do Presidente é praticamente suprimida pela competência (ou falta dela) dos assessores, merece mais que uma reflexão: seria Castelo Branco, pela primeira vez na história da política portuguesa, governada por uma oligarquia de assessores? Ou será que se trata apenas de um golpe de mestre, à la “O Primo Basilio”, em que todos os movimentos de poder são apenas para encobrir o desejo de uma reeleição confortável?
Vamos falar dos cinco assessores, porque, convenhamos, estes novos “mosqueteiros” do Presidente merecem o seu devido destaque. Se, à partida, a nossa mente pode viajar para a famosa obra de Alexandre Dumas, talvez com a sua tríade de espadachins fiéis, agora, com a mais recente adição de Natacha Neto Cerdeira, o filme de Castelo Branco parece mais um remake adaptado aos tempos modernos, com “Os Cinco Escudeiros de Castelo Branco” a ocupar o lugar das armas.
Comecemos com o venerável Paulo Santos Bernardino, o “Athos” desta saga, que, à primeira vista, não parece ter qualquer problema em conduzir os destinos da cidade de forma decisiva. Ao seu lado, Nuno Filipe Ferreira Machado, nosso “Porthos”, talvez menos célebre, mas igualmente eficaz em dar instruções. Tânia Filipa Martins Lourenço, também conhecida como “Aramis”, exibe um espírito aguerrido, talvez um pouco irónico, mas com uma lealdade incansável ao Presidente. Depois temos Gonçalo José Clemente Silva, o mais novo de todos, que, de certo modo, preenche a posição de um D’Artagnan à alentejana, com um entusiasmo tão juvenil quanto cativante. E, claro, a estrela mais recente, Natacha Neto Cerdeira, que tem agora a difícil tarefa de se afirmar no meio de uma equipa com tanto peso político, quase como uma figura mística a emergir das sombras, pronta para dominar a cena.
No entanto, não podemos deixar de notar o que parece ser uma pequena “farsa”. O poder absoluto conferido aos cinco assessores soa mais a um argumento retirado de uma tragicomédia do que uma estratégia de governação séria. No fim de contas, uma cidade de tamanho médio como Castelo Branco tem, em termos de funcionários públicos, uma legião de servidores muito mais capacitados para tomar decisões, sendo difícil acreditar que a eficiência real do município tenha a ver com o número de assessores à disposição do Presidente. Uma pergunta simples surge: será que, por trás deste aumento de poder, o Presidente não está apenas a tentar garantir que os seus projetos e sucessos, verdadeiros ou fabricados, serão executados até ao último detalhe, sem interferências externas?
A solução apresentada pela Câmara Municipal pode ser eficaz, talvez até brilhante em termos de marketing político, mas a ironia está no facto de estarmos a assistir, de uma forma bastante cínica, à construção de um “pequeno império” fechado, com assessores que, em nome de uma autonomia garantida, controlam a vida da cidade como se fossem os guardiões de um reino distante. Castelo Branco, com todo o seu charme provinciano, parece ter sido escolhida como palco para mais um enredo que mistura a alta política com os pequenos interesses que conduzem as campanhas eleitorais.
Portanto, em vez de olharmos para os cinco assessores como um grupo coeso e eficaz, como se fosse um governo paralelo, talvez devêssemos começar a pensar em Castelo Branco como o cenário de uma grande comédia política, onde o humor negro e a sátira se tornam armas essenciais para os próximos capítulos da nossa história local.