No dia que se organiza um jantar de homenagem a Joaquim Morão, para o qual Leopoldo Rodrigues, presidente da autarquia albicastrense, fez questão de enviar mensagens a militantes e não militantes do PS para estarem presentes, O Regiões teve acesso a escutas telefónicas que comprometem o Comendador e que fizeram parte da investigação que resultou na sua recente acusação no caso Adrace/ L`Atitudes
Em causa estaria a prática de um crime de recebimento (oferta) indevido de vantagem, que entretanto o Ministério Público deixou cair, sem prejuízo de posterior reabertura, caso surjam novos elementos de prova e em que eram arguidos Joaquim Morão e Teresa Magalhães.
No decurso da investigação levada a cabo naqueles autos e das interceções telefónicas realizadas, apurou-se que Joaquim Morão com a colaboração da funcionária da Adraces Teresa Magalhães, diligenciou, em 12 de dezembro de 2019, pela entrega aos funcionários Rui Rafael, do PRODER, e Moita Brites, do IFAP, de “caixinhas” com “produtos” dos “nossos beneficiários”. Joaquim Morão e Teresa Magalhães diligenciaram pela colocação de um cartão com o nome de Joaquim Morão, a menção a “boas festas”, sendo as caixas levadas a Lisboa por um terceiro, funcionário da Adraces, de nome Paulo, que O Regiões acredita ser o actual presidente da Junta de Freguesia de Zebreira, Paulo Pinto.
Sobre as ditas “caixinhas”, Teresa Magalhães expressou preocupação quanto ao facto de as mesmas poderem não chegar ao seu destino, tendo inclusivamente sugerido “que o senhor desse uma apitadela ao Rui Rafael e ao Moita Brites que era para não barrarem o Paulo lá nas entradas, ou não é preciso?”, “porque aquilo é uma, é uma caixinha toda muito jeitosa e às vezes os da entrada não fiquem lá com as coisas”. Tendo Joaquim Morão referido não ser necessário desde que fosse identificada “é para entregar ao engenheiro Rui Rafael… tá a ver? Hum?…pronto”.
Joaquim Morão certificou-se, isso sim, se se “arranjou assim uma coisa jeitosa, arranjou?”, confirmando Teresa Magalhães, “Sim, jeitosa, olhe, com todos os produtos que vão para Lisboa” tudo projetos líderes (ou LEADER).
No dia seguinte, dia 13.12.2019, Joaquim Morão questionou Teresa Magalhães sobre se “Mandou lá entregar aos outros?”, respondendo esta “sim, mandei… já lhes foi entregue ontem pronto, agora aguardemos os agradecimentos…acho que devem ser muitos…porque aquilo ia muito jeitoso…”
Posteriormente, em janeiro de 2020, em conversação sobre a investigação em curso à operação objeto daqueles autos, Joaquim Morão questionou Teresa Magalhães sobre se “as prendas que lhes mandou, eles agradeceram-lhe alguma coisa ou não?”, respondendo esta “aqui a nós, não … não me diga que não lhe agradeceu a si…”, confirmando o primeiro “Não, ninguém disse nada, ninguém disse nada…”
A essa interrogação Teresa Magalhães interrogou-se “Ai, a sério?, nem o Rui Rafael, nem nada? Ai, não acredito…é que pusemos lá um cartãozinho assinado por si, para a coisa…” “Ah, fogo..oh pá…”, rematando Joaquim Morão “É, ninguém disse nada…isso…sim, sim, tá bem…”
O Ministério Público chegou a entender que tais conversações salientam que tanto Joaquim Morão como Teresa Magalhães, com a oferta das referidas “caixinhas” “jeitosas”, visaram criar nos funcionários destinatários um clima de simpatia, e ficarem expectantes quanto ao impacto criado pelas mesmas.
Porém, ainda que, segundo o MP, subsista a suspeita de que a oferta, dirigida, por Joaquim Morão e Teresa Magalhães, a tais funcionários, pudesse ter um valor superior ao socialmente adequado, certo é que na falta de prova suficiente desse valor e concreto conteúdo, e nas circunstâncias da oferta, na quadra natalícia, de produtos regionais, não é possível ultrapassar a indiciação bastante de causa de exclusão da ilicitude, pelo que, necessariamente, entendeu o MP, uma eventual acusação estaria destinada ao insucesso, tendo em consequência sido os autos arquivados, quanto àquele tipo de crime. Ainda assim, no âmbito daquela investigação, o MP entendeu não restarem dúvidas de que Joaquim Morão incorreu na prática, em coautoria material, de um crime de fraude na obtenção de subsídio, em conjunto com o empresário António Realinho, já condenado por burla, João Carvalhinho, e Arnaldo Brás, ex-vereadores socialista, e com Luís Ferro Pereira, actual presidente da Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão.