A braços com um processo judicial em que é acusado da prática de um crime de fraude na obtenção de subsídio ou subvenção, que precipitou a sua saída da presidência do Crédito Agrícola da Beira Baixa Sul, onde estava a ser alvo de um processo de averiguação de idoneidade pelo seu alegado envolvimento no esquema do saco azul do Partido Socialista, que terá ocorrido durante o mandato de Medina na autarquia de Lisboa, e em que as autoridades investigam suspeitas de corrupção, participação económica em negócio e falsificação, Joaquim Morão foi ontem o centro de todas as atenções, num jantar de homenagem que teve lugar na Quinta da Dança, em Castelo Branco, e que se transformou numa indisfarçável iniciativa de pendor político
Apesar de os responsáveis pela organização do evento terem posto a circular a ideia de que se tratava de uma iniciativa espontânea da sociedade civil e de alguns empresários da cidade, o Regiões sabe que Leopoldo Rodrigues, recém-eleito presidente da concelhia socialista da cidade, enviou mensagens insistentes a militantes e funcionários da autarquia para que pudessem estar presentes na homenagem ao comendador.
Já no rescaldo do evento, foi posto circular o boato de que no jantar de homenagem terão participado mais de 1000 pessoas, mas O Regiões sabe que a sala ficou completa com pouco mais de 600 comensais, entre empresários, autarcas, militantes socialistas, políticos e simples cidadãos, como José (nome fictício) que disse ter participado porque Joaquim Morão, enquanto presidente da Câmara lhe tinha feito um favor pessoal e que lhe estava muito grato por isso.
Depois do jantar seguiram-se os discursos laudatórios, em que os participantes, sem excepção, teceram rasgados elogios ao ex-autarca e ex-gestor, tendo intervindo Leopoldo Rodrigues, Presidente da Câmara de Castelo Branco, os empresários João Marques Pedro, Henrique Coutinho, Trigueiros de Aragão e Ana Palmeira, e ainda o pároco Nuno Folgado. A palavra final coube ao próprio homenageado, que aproveitou a ocasião para recordar o seu percurso político enquanto autarca, em Idanha-a-Nova e em Castelo Branco.
Segundo confidenciou a o Regiões fonte ligada à distrital do Partido Socialista, a realização desta homenagem tão em cima da vinda a público de acusações graves como as que pesam sobre o seu nome, pode ser muito mal interpretada, e vista como uma tentativa de branquear os crimes e as suspeitas de crime de que Joaquim Morão está acusado. Indo inclusivamente mais longe, ao ver neste tipo de manifestação pública e no seu empolamento uma tentativa de influenciar o desenvolvimento das investigações e dos processos judiciais em curso.
«Acho este processo muito semelhante ao que aconteceu com a recepção de Sócrates, depois de libertado da prisão preventiva, quando esteve em Vila Velha de Ródão, onde foi aplaudido de pé em autêntica apoteose.», concluiu a mesma fonte.
Recorde-se que nessa altura Sócrates denunciou a existência de um poder oculto que dizia envolver elementos da justiça e jornalistas. «Esse poder, é um poder sério, que ameaça e intimida (…) isto sim é um poder corrupto que corrompe as instituições do jornalismo e da justiça», disse o ex-primeiro-ministro.
«Transformaram uma homenagem pessoal, que ninguém pode por em causa, numa iniciativa política ostensiva e despropositada», concluiu a fonte do Partido Socialista contactada pelo O Regiões »