Os repetidos cortes de abastecimento de água na freguesia de Ladoeiro, concelho de Idanha-a-Nova, estão a desesperar os habitantes desta aldeia raiana, que se veem obrigados a adaptar a sua vida aos períodos de fornecimento
Em comunicados difundidos pela autarquia nas redes sociais, tais cortes ficam a dever-se a questões relacionadas com a manutenção do sistema de abastecimento, mas a explicação não está a convencer a população, tal como o Regiões conseguiu apurar. «Não existem nenhuns indícios de obras de manutenção», afirma um morador da freguesia, «o que não bate certo com a informação que nos é dada», concluiu. Outro morador, da mesma forma afectado pelos cortes sistemáticos, afiança que: «a questão pode prender-se com as muitas fugas que existem e esta é uma forma de minimizar os desperdícios. Mas se há desperdícios, que façam as obras que nos prometeram há tanto, é para isso que pagamos uma das águas mais caras do país».
Por sua vez, uma moradora, manifesta a sua apreensão quanto ao facto de os sistemáticos cortes poderem afectar as leituras dos contadores: «quando a água retoma os contadores marcam, mas as torneiras só têm vento. E isto todas as vezes em que a água falha. Quem me garante que a contagem não é afectada por isto», conlui.
Segundo o que o Regiões conseguiu apurar, a substituição do sistema de abastecimento de água naquela freguesia foi uma das promessas eleitorais de Armindo Jacinto, uma vez que se trata de uma rede completamente obsoleta e que apresenta inúmeras deficiências.
Por esse motivo, a 27 de Agosto de 2021, conforme investigação de O Regiões, a Câmara Municipal de Idanha-a-Nova deliberou aprovar a abertura de um procedimento para contratar um empréstimo de longo prazo, para fazer face a investimentos municipais, contratação essa que veio a ser aprovada em sessão da Assembleia de 10 de Setembro de 2021, a pouco mais de um mês das eleições autárquicas
Porém, como Armindo Jacinto fez questão de informar a Assembleia Municipal de 30 de Dezembro de 2021, já depois da sua reeleição para aquele que é o seu último mandato enquanto presidente da Câmara: «este pedido de empréstimo veio aqui em setembro (de 2021) para que a Assembleia Municipal se pronunciasse sobre a sua contratação, para fazer face aos investimentos previstos neste empréstimo, um a um, e depois de ter vindo aqui foi consultado o mercado. Depois de consultado o mercado, diga-se os bancos, há uma proposta de decisão aprovada em reunião do executivo sobre a melhor proposta apresentada pelos diferentes bancos e agora vem aqui à Assembleia Municipal (30/12/2021) no seguimento da deliberação do executivo relativa à melhor proposta e depois da Assembleia Municipal irá ao Tribunal de Contas, e este é o procedimento normal.»
Segundo informações obtidas junto de fonte ligada à autarquia, no empréstimo contratado na sequência da autorização da Assembleia Municipal estava contemplada uma verba de 1.8 milhões de euros, que correspondiam ao valor previsto para o investimento de beneficiação e substituição de redes de infraestruturas de abastecimento de água e saneamento na freguesia de Ladoeiro. Todavia, aprovado o empréstimo e recebido o dinheiro pela autarquia, as obras não começaram, tal como estava prometido.
Contactado pelo O Regiões, o líder da oposição no órgão executivo do Município, eleito pelo Movimento Para Todos, José Adelino Gameiro, disse não se recordar da existência da contratação de um empréstimo com esse fim, nada mais querendo adiantar sobre o assunto.
Mas o Regiões sabe que, na Assembleia de 30/12/2021, o empréstimo para as obras do Ladoeiro foi aprovado com os votos a favor do PS, com a abstenção do PSD e com os votos contra do Mov.pt.
