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O Primeiro Orçamento, Pord. Afonso Henriques

A cabeça do aclamado rei do território portucalense andava às voltas, naquele ano de 1145. Estávamos em Outubro e era preciso fazer passar o Orçamento de Estado, apresentar as linhas estratégicas, acomodar os pagamentos e despesas. Afonso, de lá para cá e de cá para lá, andava em Britiande com um ábaco na mão, gamado aos mouros. Em desespero, já à tardinha, berrou:

«Ó Egas, marca lá uma conferência de Imprensa para as oite da noite!”. Egas, o Moniz, que percebia de comunicação social, aventou: «Às oito, senhor? Às oito já não se vê nada, está escuro, chove que Deus Nossosenhor a manda. Para que quereis vós, Alteza, tal encontro?”.

Afonso, ainda de ceroilas, e pantufas de borrego, foi claro: “Para calar esse mouro do Iam satis, que diz ter-se encontrado comigo cinco, Egas, cinco vezes. O ingrato. Esse romano Andreas não me larga, a pedir processos quando ainda nem inventámos a mentira, quanto mais os tribunais».

Egas, o aio e, no fundo, seu pai, aconselhou: «Não ligais, Senhor. Preocupai-vos sim com Bispo do Rato, Petrus Sanctis, que anda de cabeça perdida e não se escanhoa desde os tempos do humiliare por causa dos cavalos que voavam, dizia ele…».

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«Não, Egas! Quer Andreas quer Petrus são inimigos do Reino e do Rei, mas temo as suas forças. Os de Andreas são ignarus, os de Petrus são mendicus…». Egas atalhou: «E os Liberalis parecem uns stultus! Não vejo forma de agradar a todos… diabos, devia ter voltado a França! Isto ainda agora começou e já está ingovernável».

Aquilo estava tremido. Afonso puxou os paramentos e vestiu tudo, tendo-se enganado e enfiado a cabeça numa das mangas, mas prontamente o aio o socorreu. «Não vês tu, meu bom Egas, que sem a aprovação dos Forsionali e das Cartas de doação, estamos tramados?? Onde vamos buscar os morabitinos, se não conseguirmos que a Santa Madre Igreja vote connosco os Diplomas de Moedagem?».

Afonso Henriques fardou-se a rigor, com umas grandes cotas de malha, para parecer modesto, e atirou: «Egas, vai lá buscar os cronistas para lhes dizer o que vamos fazer». «Isso é um erro, meu Senhor, um erro… a maior parte deles não tem burra de cronista. Anda aí aquela velha que ainda a semana passada cá veio fazer-lhe o retrato e deu brado…». Mas o soberano não quis saber.

Às 20h00 em ponto lá tinham armado com mais velas do que o costume uma salinha onde se pronunciava o monarca. Rodeado de ilustres e magnânimas figuras, agradeceu a presença de todos e anunciou: «Súbditos, alegrai-vos. Neste primeiro Registo de Dívidas e Empréstimos, tenho a anunciar que não há dívida nem empréstimos. Era o que mais faltava, pois estamos no primeiro Orçamento de Portucale. Aos que muito criticaram quero apresentar à Pátria que encontrámos a solução para o ano que há-de adentrar…».

Silêncio aterrador. Depois de tantas semanas o Soberano tinha uma solução para calar as vozes críticas, os prelados distraídos, os amantes dos mouros, os inquinados castelhanos… Ouviam-se as teias de aranhas a balançar, as velas a arder, o mutismo dominava. Até que D. Afonso Henriques, erguendo o livro das contas, exclamou: «Temos a solução para o dinheiro que precisamos! Vou pedir tudo à mamã!!».

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista, autor, (pré-agricultor).

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