Portugal, país onde o sol brilha 300 dias por ano e os incêndios ardem 305, continua a sua tradição épica de combater fogos florestais com meios aéreos que, por mero capricho cósmico, adormecem ao pôr do sol. Enquanto outros países usam tecnologia made in século XXI, nós preferimos a poesia do improviso. Ainda agora, nos fogos da Califórnia, aviões e helis entraram noite e madrugada dentro no combate. Aqui, nem pensar nisso. Um relatório eventualmente feito pela comissão de peritos em luz solar chegou às seguintes conclusões para a nossa cegueira nocturna. Eis seis explicações sérias para este fenómeno único, extraídas do documento a que O Regiões pôde ter acesso:
Os Helicópteros São Vampiros. Sim, descobriu-se que as aeronaves portuguesas sofrem de fotossensibilidade aguda. Expostas à lua, desintegram-se em nuvens de morcegos — ou, como dizem os relatórios oficiais, “sofrem limitações operacionais nocturnas”. Para evitar que os pilotos sejam comidos vivos nas redes sociais, a Força Aérea instalou crucifixos nos cockpit, mas esqueceu-se de contratar padres para bênçãos 24 horas.
Outra das conclusões: Os pilotos são Influencers de dia. Entre lançar água e lançar conteúdo, a escolha é óbvia. À noite, gravam vlogs sobre “como sobreviver a um incêndio usando a bruma Pipy” ou participam em debates online patrocinadas por marcas de protector solar. Afinal, combater fogos não põe hashtags no Twitter — mas uma maquilhagem impecável, sim!
O Manual de Instruções é do Século XIX. Encontrado num baú da monarquia, o guia operacional exige que os meios aéreos sejam guiados por sinaleiros com archotes. Como não há voluntários para correr à frente dos helicópteros gritando “É À DIREITA, Ó CAMARADA!”, preferimos adiar as missões até ao amanhecer. Uma tradição, caramba!
Entretanto, os Fogos Nocturnos são considerados “Arte Abstracta”. A Protecção Civil adoptou uma postura pós-moderna: incêndios após as 20h são interpretados como instalações artísticas efémeras. “Não podemos apagar uma obra de Banksy natural”, justificou um perito, enquanto o país ardia em cores quentes e retiradas das melhores obras de arte do mundo.
Outro dos problemas é que as aeronaves precisam de “Sono de Beleza”. Segundo um estudo encomendado ao Instituto da Soneca Estratégica, cada helicóptero requer 12 horas de repouso para manter a beleza aerodinâmico. “Sem isso, o risco de esgotamento estético é inaceitável”, alertou o relatório, ignorando pequenos detalhes como casas carbonizadas.
A burocracia é um animal nocturno. O “Burocratossauro Rex”, espécie endémica de Lisboa, acorda ao entardecer para devorar pedidos de autorização. Enquanto os processos são mastigados em reuniões com chávenas e Pastel de Nata, os incêndios dançam livremente ao som de fado. Eficiência, dizem, é uma palavra estrangeira.
Epílogo: Enquanto a UE nos envia aviões — mas esquece-se das instruções de montagem —, e os políticos juram que “desta vez é para valer” entre selfies com bombeiros, o país continua a apostar na sua estratégia mais eficaz: rezar para que chova. Ou para que os incêndios, por cortesia, marquem horas de entrada e saída entre as 09h00 e 17h00.