Garry Kasparov, ex-campeão do mundo de Xadrez (pela antiga União Soviética), é autor do livro “A Vida Imita o Xadrez”, no qual explora as semelhanças entre as estratégias do jogo e da vida. Kasparov – de apelido Weinstein à nascença, filho de pai judeu e mãe arménia –, tem sido um empenhado ativista cívico e político anti-Putin, escreveu também o livro “Os riscos da liderança russa e a grande ameaça à paz no mundo ocidental”, título que na edição inglesa foi modificado para “Porque é que Vladimir Putin e os inimigos do mundo livre têm de ser travados”.
Kasparov argumenta no seu livro que a capacidade de antecipar o futuro, avaliar oportunidades, adaptar-se a novas situações e aprender com os erros, é fundamental tanto no xadrez como na vida, equilibrando a estratégica com a tática. Baseando-se nas suas próprias experiências, na teoria política e na história militar, o autor demonstra como as lições aprendidas no Xadrez podem (e devem) ser aplicadas para tomar melhores decisões, gerir riscos e disposições, e alcançar objetivos exigentes, superando com sucesso os desafios da vida.
Em sentido contrário e explorando as diferenças entre o Xadrez e a vida, Elon Musk – o egocêntrico “menino nazi” que ajudou a eleger Trump para um segundo mandato – fundador e/ou CEO da Tesla, SpaceX, OpenAI, Neuralink, SolarCity e X (ex-Twitter), declarou publicamente que considera o Xadrez um jogo demasiado simples e pouco interessante, faltando-lhe complexidade e profundidade estratégica. Mais concretamente, criticou o tamanho e a limitação do tabuleiro de 8×8 casas e a ausência de informações ocultas (“nevoeiro de guerra”).
Aponta, ainda, a falta de uma representação hierárquica de atualizações (“árvore de tecnologia”), a existência de apenas dois jogadores e a igualdade de posições iniciais à partida (as mesmas peças, nas mesmas posições) em todos os jogos. Independentemente da fonte, estas observações não deixam de ser interessantes, não diminuindo, todavia, a importância do Xadrez, cujo número de jogadas possíveis – estimadas em 10¹²⁰, o “Número de Shannon” – é imenso e até inimaginável, ultrapassando os átomos existentes no universo observável.
De facto, só nos primeiros quatro lances são possíveis 315 biliões de combinações. Esta complexidade do Xadrez deve-se à liberdade de movimento das peças e à grande variedade de sequências de jogadas, que se expandem a cada lance. Mesmo em partidas rápidas, as variantes são tão numerosas que é praticamente impossível mapear todas elas. Por esta razão, importa mais conhecer e ater-se a princípios de jogo do que à memorização de aberturas e defesas, sem prejuízo de o fazer para acelerar as jogadas iniciais, sobretudo em partidas rápidas.
Entre esses princípios, estão o domínio do centro do tabuleiro (sobretudo das casas d4, d5, e4, e5), o desenvolvimento progressivo das peças (sem recuo de movimentos e potenciando a ameaça sobre as peças do adversário, sobretudo do Rei e das peças mais valiosas), a segurança e proteção do Rei (nomeadamente pelo “roque”), a evitação do bloqueio e inatividade das peças (tirando o máximo partido das mesmas, para ataques ou defesas) e o isolamento ou dobragem de peões, procurando fazer o contrário com as peças do adversário.
Obviamente que o Xadrez não é a vida plena, nem a vida – na sua plenitude – se restringe ao Xadrez. Mas é inegável que o Xadrez oferece importantes lições para a vida humana, treinando a mente para as dimensões e variáveis estratégicas e táticas com que a vida tem diariamente de lidar. Proporcionar cedo as aprendizagens xadrezistas às crianças e aos jovens, prepara-os melhor para a vida, o que constitui a missão fundamental dos educadores, a começar pelos pais, cuidadores e pedagogos, e a culminar nos líderes organizacionais, comunitários e governativos.