Pelo quinto ano consecutivo, participei nas vindimas numa quinta do concelho de Vila Nova de Foz Coa. Este ano o cenário era de desolação pelas cepas carbonizadas, uvas secas pelo calor dos incêndios. O proprietário estimou uma perda de 70 por cento na colheita das uvas, em relação ao ano anterior.

Para numa região envelhecida, cada vez com menos habitantes, foi mais um grande revés. Por isso se torna penoso constatarmos – porque em período de campanha eleitoral – gigantes cartazes por essas terras fora, com políticos que repetem promessas sem as cumprir.

O pequeno viticultor que o faz pela preservação da família e por amor à terra, está cada vez mais constrangido pelas tarifas de exportação, pela falta de mão-de-obra, ou ausência de políticas de escoamento. O lamento já está gasto, já ninguém ouve. “Não há gente para trabalhar a terra, nem para colher os seus frutos. Até para termos imigrantes a trabalhar vai ser muito apertado!”. Assim, não sendo uma grande empresa, as pessoas que detém pequenas vinhas, tentam socorrer-se da família e também dos amigos, que por sua vez tentam levar outros amigos.

As uvas são miudinhas, embora doces. Por causa do calor os cachos mirraram, algumas videiras secaram e outras arderam. Por isso, os balseiros que os tratores transportaram para o lagar da cooperativa onde os cachos são esmagados e transformados em mosto e depois em vinho fino, foram poucos.

Percorrendo toda a região transmontana sente-se país a definhar. Não só pelo cenário de extensas zonas carbonizadas, que a memória identificou com as imagens passadas este verão nos media, como uma fragilidade de serviços e também desânimo. Uma mulher contou-me que, sentindo-se mal durante a noite teve de ir para o meio da estrada às 02h00 para ver se algum carro passava para a socorrer… As casas das aldeias, por ausência de capacidade para as restaurar, continuam a desmoronar-se, sendo abandonadas. As pequenas empresas abrem e fecham por falta de sustentabilidade. As pessoas estão distantes do poder que faz as leis e que as condiciona a uma precariedade laboral.

O distanciamento das pessoas dos políticos começa a se assustador. Nestas zonas rurais do interior, as pessoas tem poucas alternativas: ou se submetem aos caprichos do poder engolindo sapos ou, ficam entregues a si próprias e às intempéries naturais e fabricadas.

Prossigo as minhas incursões por terras do interior e nas descobertas em solo espanhol, visito o moderno e específico museu do Tratado de Tordesilhas, assinado entre D. João II e os reis católicos de Espanha em 1494 e que dividiu o globo ao meio nas esferas de influência das duas potencias marítimas à época, moldando, assim, o futuro do mundo. Os documentos originais encontram-se guardados: o de Espanha na Torre do Tombo e o de Portugal, nos Arquivos das Índias em Sevilha, tratado inscrito pela UNESCO em “Memorias do Mundo”. Até aqui se verifica quão insuficientes somos na preservação da nossa história, da educação, da cultura. Recordando o escritor Eça de Queiroz, continuamos a definhar.
