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A Democracia e a falta dela

O erro incônscio ou a iniquidade deliberada em que incorrem muitos apoiantes de forças extremistas e populistas, os quais afirmam (ou dão a entender) estar absolutamente contra a democracia, reside na sua hipotética ignorância sobre a significação de Democracia (e, provavelmente, de Autocracia), ingenuidade perfeccionista sobre o mundo e a vida, iliteracia e vulnerabilidade mediática ou egoísmo, mau-carácter e malevolência em relação aos outros (genérica ou seletivamente). O surto é, como se tem visto, deveras agressivo e contagioso

Nunca vi estes indivíduos referirem-se a “falhas de democracia” e de lhe apontarem – tão só e precisamente – defeitos ou excessos, caracterizando-os como tal. O que vejo é abominarem e tergiversarem a democracia, culpando-a – qual bode expiatório de largo costado – de tudo e mais não sei quê, mesmo sendo óbvio que muito desse tudo nada tem a ver com os males de que a acusam. Há sempre que encontrar um “bode”, seja ele qual for, para garantir a consolante atribuição, e, convenhamos, a democracia (quem a lidera, claro) tem-se posto muito a jeito…

As “falhas de democracia” referem-se a insuficiências ou deficiências democráticas – democracia a menos, em quantidade e/ou qualidade, isto é, má democracia –, nunca a democracia em excesso (não confundir “democracia em excesso” com “excessos em democracia”, nem “má democracia” com “a democracia é má”). Não há democracia a mais, tudo o que é excessivo em democracia – a começar pela liberdade transformada em libertinagem (incluindo o maroto do “wokismo”) – não é democracia, é “falha de democracia”.

Não se pode, obviamente, tomar a parte pelo todo, caindo no estereótipo (generalização simplista e preconceituosa) ou na falácia da generalização (erro de raciocínio que generaliza com base em evidências insuficientes ou casos isolados). É claramente preferível um bom regime com falhas (que devem ser atempadamente reconhecidas e corrigidas) do que um mau regime com virtuosos atos de bondade, alguns reais (poucos), outros (a maioria) simulados ou adocicados. Lá diz o povo, “com papas e bolos, se engana os tolos”

Do que verdadeiramente precisamos – meta-se isto bem na cabeça! – é de mais e melhor democracia, não de autocracia ou, pior, cleptocracia. Só quem não sabe o que é um regime autocrático e totalitário, é que não percebe o valor da liberdade e da democracia. Um governo de “justos” não pode ser oligárquico, déspota e sectário – reduzindo a “gente boa” ou “pessoas de bem” aos seus acólitos –, tem de saber dialogar, negociar e incluir, integrando o diferente e o minoritário. O contrário da má democracia tem de ser a boa democracia – “inteira e limpa”, parafraseando Sophia – e não a autocracia.

Ao contrário do que procuram fazer crer os adeptos do extremismo e populismo de “direita”, a liberdade e a democracia não são uma conquista da “esquerda” (e muito menos da “extrema-esquerda” ou do “wokismo”) São, sim, uma conquista civilizacional da verdadeira “gente boa” ou “pessoas de bem” – não dos preferidos e oportunisticamente escolhidos por autocratas sectários, mas “daqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”, como os descreveu Camões. Ou seja, dos que estão do lado da bondade, do conhecimento e da justiça social.

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José Nascimento
José Nascimento
Tem 68 anos e vive na aldeia de Vale de Zebrinho (Abrantes). Reformado do ensino superior, onde lecionou disciplinas de gestão e psicologia social, dedica o seu tempo à atividade cívica e autárquica. É, também, membro do núcleo executivo do CEHLA – Centro de Estudos de História Local de Abrantes (editor da Revista Zahara). Interessa-se pelas dinâmicas políticas e sociais locais e globais, designadamente pelos processos de participação e decisão democráticos.

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