Assisti com enorme apreensão, embora sem surpresa, às mais recentes notícias que envolvem o Município de Idanha-a-Nova numa série de casos de grande complexidade política, judicial e financeira. Sem surpresa, porque os assuntos não são novos para mim, atenta a minha condição de deputado à Assembleia Municipal, onde tive ocasião de abordar alguns deles. Com enorme apreensão, porque os problemas se adensam de dia para dia, e tal desenvolvimento não augura nada de bom.
Sobretudo depois das mais recentes declarações de Armindo Jacinto, em que o autarca revelou a sua intenção de abrir uma nova frente de batalha nos tribunais, batalha essa que apenas vai servir para adensar hostilidades, e para fazer crescer os honorários de advogados e a dívida da autarquia. Tecnicamente, do ponto de vista jurídico, esse confronto está perdido à partida, e Armindo Jacinto sabe disso perfeitamente. Os factos que Armindo ainda hoje contesta estão perfeitamente assentes numa decisão judicial há muito transitada em julgado. Porém, mal aconselhado, fortemente acossado e irremediavelmente diminuído na sua condição política, Armindo Jacinto ensaia desta vez uma manobra de verdadeira sobrevivência, bem reveladora da forma obstinada com que se agarra ao poder, mas que tem apenas como resultado prolongar e agravar uma agonia anunciada. Por isso, Armindo Jacinto é já um político derrotado!
Não admiro a sua resistência, porque ela mais não é do que uma relutância estúpida em aceitar a derrota e os seus resultados. Talvez Armindo Jacinto ignore que se pode ser vencido, sem se ser humilhado. Mas, para tanto, é necessário reconhecer o fracasso na hora certa e com dignidade. Neste caso, a hora certa já passou e aquilo que restava de dignidade está irremediavelmente perdido. Já aqui o afirmei: nada de pessoal me move contra Armindo Jacinto, tanto mais que consigo vislumbrar no meio das nebulosas que o ensombram a dimensão humana e trágica do triste episódio com que encerra uma vida pública de quase três décadas.
Mas eu não posso nem devo permitir que as dimensões políticas e humanas se confundam neste caso. Aqui, eu estou apenas para avaliar o desempenho e alcance das decisões políticas de Armindo Jacinto, e, deste ponto de vista, o autarca tende a revelar-se cada vez mais como um mau gestor da coisa pública. Incapaz de resolver os graves problemas com que o Município se defronta, Armindo Jacinto adia as soluções, agrava a dívida e aumenta a litigiosidade da autarquia. Penso que existe uma forte probabilidade de que o processo de Cristina Rodrigues não esteja resolvido antes do final do mandato de Armindo Jacinto. Se assim for, como supõe Armindo que o próximo presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova aceite esta pesada herança?
Qualquer gestor público prudente e sensato procurará, no mais breve espaço de tempo, chegar a um acordo com Cristina Rodrigues, de forma a pagar a dívida e a honrar o bom nome da autarquia. Nessa altura, perguntar-se-á de que terão servido todas as manobras e expedientes dilatórios de Armindo Jacinto. E a resposta só pode ser uma e simples: fugir às suas responsabilidades. E isto diz muito de um político.