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Bio Região De Idanha-a-Nova: A Grande Farsa

Em política não pode valer tudo. Bio.

O estudo recentemente divulgado pela organização europeia Pesticide Action Network, em parceria com o grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia do Parlamento Europeu, revelou que o concelho de Idanha-a-Nova é campeão em termos de concentração tóxica para o organismo humano do herbicida glifosato em cursos de água doce, sendo detectadas concentrações deste químico 30 vezes superiores ao limite legal.

Bio Região de Idanha-a-Nova: a Grande farsa
DR

A Câmara Municipal apressou-se a vir a público procurando desacreditar os dados apresentados pela organização internacional, referindo que vai agora encomendar um estudo independente e credível a uma entidade que gravita na órbita da sua influência institucional e financeira, a CoLAB Food4Sustainability, cuja actividade económica é a investigação das ciências físicas e naturais, e em biotecnologia, e ainda a aquicultura em águas doces, salgadas e salobras.  

Os resultados divulgados pela Pesticide Action Network, cuja credibilidade e independência a autarquia, sem razão aparente, põe agora em causa, embora surpreendentes, não colheram a todos de surpresa, já que as transformações no tecido agrícola verificado nos últimos anos no perímetro de rega de Idanha-a-Nova, sobretudo com a introdução da monocultura intensiva de amendoal, faziam prever algo de semelhante.  

A este respeito, perfeitamente ciente das implicações que tal transformação implicava em termos ambientais, fui daqueles que compreendi que, resultado de políticas públicas locais perfeitamente desastrosas, empreendidas, sobretudo, nos últimos vinte anos, o concelho de Idanha-a-Nova caminhava rapidamente da estagnação para o desaparecimento, e que só um investimento da natureza daquele agora operado poderia retardar um processo que considero irreversível.  

Ainda assim, confesso que me surpreendi pela dimensão dos valores apresentados, porque eles revelam uma situação verdadeiramente preocupante, à qual ninguém pode ficar indiferente, muito menos a autarquia local.  

Certamente muitos estranharam o facto de que sendo este, justamente, um território que a Câmara Municipal procura divulgar para o exterior como sendo um exemplo de práticas ambientais sustentáveis, surja agora na boca do mundo, afinal, como uma região altamente contaminada e tóxica.  

Com efeito, a Câmara Municipal de Idanha-a-Nova tem investido centenas de milhares de euros numa estratégia que visa apresentar o concelho como uma Bio-região. Talvez que isso não tenha passado de uma estratégia de marketing territorial, mas ainda assim é inaceitável fazê-lo, quando se tem noção de que se oculta a realidade por detrás do pano: um pano contaminado e inevitavelmente letal.   

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Isto porque a realidade agrícola do concelho é completamente incompatível com uma bio região.    

Vejamos porquê, não sem antes explicar alguns conceitos irresponsavelmente utilizados. 

O termo Bio-região refere-se a um território, dentro do qual existe cooperação entre todos os seus actores, que identificam a agricultura biológica ou a agroecologia como o pilar do desenvolvimento rural. Nestes territórios, os agricultores e suas associações, operadores turísticos, consumidores e poder local, assinam um acordo para a gestão sustentável dos recursos locais, partindo do modelo biológico de produção e consumo (circuitos curtos de comercialização, grupos de compras solidárias, integração da produção local nas cantinas públicas e actividades de restauração, hotelaria, animação turística). A promoção dos produtos biológicos articula-se em associação com a promoção do território e das suas peculiaridades, para atingir um plano de desenvolvimento das potencialidades económicas, sociais e culturais.

Se atentarmos agora sobre quais são os principais objectivos da produção biológica, veremos que eles se centram em contribuir para a protecção do ambiente e do clima, manter a fertilidade dos solos a longo prazo, contribuir para um elevado nível de biodiversidade, contribuir substancialmente para um ambiente não tóxico, e dar preferência aos circuitos curtos e às produções locais.

Finalmente, verificamos que os princípios gerais da produção biológica se fundam no respeito pelos sistemas e ciclos da natureza e conservação e melhoria do estado dos solos, da água e do ar, da saúde dos vegetais e dos animais, assim como do equilíbrio entre eles. Verificamos também que é central para este sistema a utilização responsável da energia e dos recursos, tais como água, os solos, a matéria orgânica e o ar, com a produção de uma ampla variedade de géneros alimentícios e de outros produtos agrícolas de elevada qualidade que respondam à procura, por parte dos consumidores, de bens produzidos por processos que não sejam nocivos para o ambiente, a saúde humana, a fitossanidade ou a saúde e o bem-estar animal.

Posto isto, só mesmo no âmbito de uma estratégia de puro marketing se pode admitir que um território com uma das maiores manchas de amendoal intensivo da Europa, já com milhares de hectares, e cujo crescimento se prevê possa aumentar para as casas das dezenas de milhar, em vista de alimentar os mercados mundiais, onde não existe produção biológica para os mercados locais, e onde os escassos agricultores existentes, quase todos em modo de produção convencional, se debatem com sérios problemas de sobrevivência, pelo aumento dos preços dos factores de produção, se possa considerar uma região amiga de uma agricultura sustentável, e muito menos uma bio-região.

Dizer o contrário é simplesmente criminoso.

 

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Pedro Rego
Pedro Rego
Advogado. Escreve artigos sobre diversas temáticas para o jornal ORegiões.

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