O Centro de Arquitetura do Centro Cultural de Belém (CCB) reabre, na próxima quarta-feira, após um ano de encerramento, com uma proposta inovadora que desafia as convenções da arquitetura. A nova exposição, intitulada Interespécies, promove uma reflexão profunda sobre a convivência entre diferentes formas de vida e os ecossistemas que nos envolvem. A iniciativa é descrita como uma “exposição polifónica”, com múltiplas perspetivas sobre o tema, visando fomentar um debate coletivo e interdisciplinar.
Mariana Pestana, curadora-chefe do Centro de Arquitetura, explicou à agência Lusa que o projeto não se limita a ser um espaço expositivo, mas pretende também funcionar como um “ponto de encontro e de produção de conhecimento”. Com esta reabertura, o espaço da Garagem Sul passa a ser um local de investigação e de troca de saberes, onde se cruzam disciplinas como a arquitetura, o design, a biologia e as ciências sociais.

A exposição Interespécies será inaugurada às 19h00 com entrada gratuita e inclui uma programação que conta com uma conversa sobre a coabitação entre espécies, além de uma performance musical baseada em sons produzidos por diversas espécies. A partir de quinta-feira, o espaço estará aberto ao público, das 10h00 às 18h30.
Uma nova abordagem à arquitetura
A renovação do Centro de Arquitetura envolveu uma intervenção subtil, mas significativa, da equipa do ateliê BUREAU. A curadora sublinha que a ideia central é dar uma nova dinâmica ao espaço, proporcionando não apenas um local para exposições, mas também para a realização de programas públicos, workshops, residências e publicações. “Queremos explorar formas de criação de conhecimento que envolvem o coletivo e a colaboração entre diferentes áreas do saber”, afirmou Mariana Pestana.
O primeiro ciclo expositivo tem como tema a arquitetura interespécies, que considera a relação entre seres humanos e outras espécies, incluindo plantas, animais e micro-organismos. Este projeto surge na sequência da pesquisa que Mariana Pestana tem desenvolvido com um grupo interdisciplinar, que inclui investigadores da Bauhaus of the Seas Research Group, abordando questões de ecologia e design. “A arquitetura deve servir não só as pessoas, mas também os ecossistemas aos quais pertencemos”, explicou a curadora.
Uma exposição para todos os públicos
A exposição será dividida em três seções principais: Aproximar, que explora novas maneiras de ver o mundo; Coabitar, que apresenta projetos arquitetónicos que promovem a convivência entre diferentes espécies; e Conspirar, que discute os direitos da natureza e as transformações no urbanismo e na legislação em prol da proteção de determinadas espécies. Ao longo da exposição, o público poderá conhecer exemplos inusitados, como o projeto de um designer que viveu como um bode durante três dias, ou o estudo da vida de um flamingo no estuário do Tejo.
A curadoria conta com contribuições de criadores das áreas do cinema, informática, biologia e videojogos, com o objetivo de atrair um público mais vasto, para além dos profissionais da arquitetura. A exposição irá também convidar os visitantes a interagir com jogos que simulam a troca de corpos com outras espécies, ou a explorar arquiteturas criadas especialmente para pássaros e insetos.
Investigação e residência em destaque
Além da exposição, o Centro de Arquitetura do CCB dá início a um programa anual de residências, que neste ano inclui o ateliê dinamarquês Superflex, os portugueses KWY e o Estúdio Obsidiana. Estes ateliês irão criar instalações de arquitetura que serão apresentadas no Jardim das Oliveiras e no Jardim da Água do CCB em junho, em paralelo com um ciclo de conversas.
Outro ponto de destaque são as bolsas anuais de arquitetura, no valor de 10 mil euros cada, que serão concedidas a indivíduos ou coletivos cujos projetos estejam alinhados com a temática do centro. Mariana Pestana sublinha a importância dessas bolsas, num país onde o apoio à criação em arquitetura é escasso, destacando o papel do Centro de Arquitetura como um impulsionador de projetos de investigação e experimentação.
Desafios contemporâneos e esperança
A curadora também observou que a nova geração de estudantes de arquitetura tem mostrado um grande interesse pelas questões ecológicas e pelo impacto da mudança climática. “Este espaço visa responder a essas preocupações, oferecendo uma plataforma onde se podem explorar alternativas e soluções para um futuro mais sustentável”, afirmou. Através da arquitetura, o Centro de Arquitetura pretende não só refletir sobre os problemas contemporâneos, mas também sugerir novas formas de coexistência harmoniosa com o ambiente.
A reabertura do Centro de Arquitetura do CCB promete ser um marco importante na promoção de uma arquitetura mais consciente, interligada aos ecossistemas e à natureza, ampliando o papel dos arquitetos como agentes de mudança e de inovação social.