Quinta-feira,Janeiro 30, 2025
9.5 C
Castelo Branco

- Publicidade -

Chamem o Poirot!

Cito: « “Crimes estão a ser praticados de forma cada vez mais violenta”, diz Carlos Moedas». Eu sei que se anda uns segundos a tentar perceber quem é Moedas, mas uma pessoa lá se lembra que é o baixinho caixa-de-óculos, presidente da Câmara de Lisboa.

O conteúdo da frase, que ignora estoicamente o que a Judiciária disse sobre o crime em Lisboa (que desceu) e em Portugal (que também desceu) é apenas um truque político para a próxima campanha eleitoral, já este ano. Moedas quer agarrar este assunto para espetar nas ruas cartazes a dizer “Moedas: Lisboa mais segura” – e pedir mais polícias para a cidade e mais votos para a carteira. Mas, lamento, é tudo falso. Os números, os estudos, a própria polícia o desmente.

Parece-me que o autarca não conhece a cidade. Eu posso explicar-lhe o que era crime desde os anos 70 até aos anos 90 do século passado. Um tipo ia na rua com uma nota de cem paus nas meias, num bolso escondido, porque a bandidagem andava à solta. Poucos, da minha geração, não foram gamados nas avenidas mais brilhantes ou nos bairros mais esconsos. Hoje, Lisboa é um paraíso de segurança, comparada com esses anos malditos. Havia guarda nocturnos, mas havia muito carro roubado a cada madrugada. Dos Toyota Corolla aos Fiat 127 ou aos Fiat Uno. Ia tudo em fila indiana para as garagens de Loures e Odivelas, para vender, desmontar, mudar matrícula.

Quando se era gamado, ia-se à Feira da Ladra, na terça ou sábado seguinte, comprar aos meliantes, transformados em vendedores, aquilo que era nosso. Demorava-se um pedaço a procurar.

Violações? Quem não sabe da Monsanto conspurcada, entre prostituição, raptos para violações, violência de faca na liga. O mesmo na Mouraria, no Bairro Alto, em Alfama, nos Olivais, em Chelas, em Benfica, em todo o lado, ó mestre Moedas.

Hoje quer pôr-se o problema numas centenas de imigrantes, fugidos à guerra, à pobreza, à fome. Não nego o problema. Onde está a eficácia do Estado, para o qual todos contribuímos, quando toca a integrar? Integrar não é dizer “fachavor de entrar, esteja à vontade, faça o que quiser”. É explicar bem as regras deste país, é ajudar quem precisa, mas, antes, fazer que compreender que neste território há valores éticos e culturais. E não deixar passar em branco esses valores e cultura quando se enquadra e se acolhe.

Só que o Estado, falido na sua decência, não tem nada nem ninguém preocupado com o verdadeiro acolhimento e integração. Dada essa incompetência, fecha-se em copas, diz que vai construir muros e barreiras para “os outros” não entrarem. A solução mais incompetente, claro.

Nem vou agora explicar a riqueza que os imigrantes trazem. Nem vou explorar a profunda vergonha e indecência de ter seres humanos estrangeiros escravizados na nossa agricultura. Nem pensar que toda a gente com autoridade, a isso, já fecha o olho.

Mas seria bom que os Moedas deste país não agitassem o medo como arma eleitoral. Fica bem, aos que compreenderam a ética e os valores portugueses. Ou Moedas também chegou do Afeganistão?

- Publicidade -

Não perca esta e outras novidades! Subscreva a nossa newsletter e receba as notícias mais importantes da semana, nacionais e internacionais, diretamente no seu email. Fique sempre informado!

Partilhe nas redes sociais:
Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista 2554, autor de obras de ficção e humor, radialista, compositor, ‘blogger’,' vlogger' e produtor. Agricultor devido às sobreirinhas.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques

- Publicidade -

Artigos do autor