Governar com honestidade. Bio Região não rima com glifosato .Nos últimos dias, o gabinete de imprensa da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova tem-se desdobrado em esforços, no sentido de procurar desacreditar, junto dos meios de comunicação social, os resultados do estudo europeu sobre glifosato.
Tal estudo, como já aqui referi em artigo anterior, foi levado a cabo pelo consórcio internacional Pesticide Action Network e pelo Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia, no Parlamento Europeu, e foi divulgado pela Plataforma Transgénicos Fora, organização que fez a recolha das amostras em Portugal, onde, a par de Áustria, Espanha e Polónia, foram detectadas concentrações de glifosato consideradas tóxicas para o consumo humano.
Uma das amostras em Portugal, recolhida em Idanha-a-Nova, continha 3 microgramas/litro (µg/L), isto é, 30 vezes mais que o limite legal, tendo sido a mais elevada concentração de glifosato detetada nas amostras analisadas no estudo. O limite de segurança para o glifosato na água potável é de 0,1 μg/L.
Em face destes preocupantes resultados, cujos impactos e eventuais consequências para o ambiente e a saúde urge conhecer, a Câmara Municipal de Idanha-a-Nova declarou: “Estranhamos estes resultados e os critérios escolhidos para seleccionar a Herdade da Fonte Insonsa, em Idanha-a-Nova. Alguém acredita que Idanha tem o índice mais elevado de glifosato da Europa?”, questiona a Câmara Municipal, num comunicado enviado à agência Lusa.
Ora, o que se estranha verdadeiramente é que a autarquia, ao invés de se preocupar em conhecer a origem de tais emissões, e em avaliar os efeitos nocivos de tão elevadas concentrações de um químico altamente nocivo para a saúde, venha de uma forma ardilosa desviar as atenções do essencial da questão, procurando lançar infundadas suspeições sobre as intenções do referido estudo.
Não é difícil perceber esta postura, e a sua razão de ser resume-se numa simples expressão: glifosato não rima com bio região. E bio região tem sido a palavra de ordem com que o presidente da autarquia, Armindo Jacinto, tem querido vender uma Idanha que, afinal, não existe.
Não obstante, é público e notório o enorme esforço financeiro assumido pela autarquia em campanhas de marketing, em feiras e publicidades, em vista de promover a bio região de Idanha-a-Nova. O que é tanto mais inaceitável quando todos já sabiam que Idanha-a-Nova não reunia as condições exigíveis para ser uma bio região, em consequência dos recentes investimentos realizados por fundos internacionais em plantações intensivas de amendoal, os quais, diga-se, receberam por parte do Governo, e a meu ver bem, a classificação de projecto de interesse nacional.
A autarquia conhecia essa realidade, e não podia ignorar que as práticas agrícolas associadas a esses investimentos são incompatíveis com os requisitos de uma bio região.
Por isso, é ainda maior o pecado da autarquia e é ainda maior a sua culpa, já que esses investimentos em marketing, a promover uma coisa que não existe, não passam afinal de más práticas de gestão pública, quando aquilo que se exige a um decisor político é precisamente uma gestão de qualidade da despesa pública.
A não ser que essa campanha tenha sido efectuada, justamente, para escamotear de forma deliberada a realidade que já se sabia existir, o que redundaria não apenas numa má prática de gestão, mas, sobretudo, numa utilização perversa ou mesmo criminosa dos recursos públicos.
Alguém compreende que se ande a apregoar aos sete ventos uma coisa que não existe, sem haver para tanto um motivo plausível? Que interesses se poderiam esconder por detrás de uma tal conduta?
Fica no ar a pergunta.
O que é certo é que o cidadão tem o direito a um governo honesto, e em particular os idanhenses têm direito a saber a verdade, e têm sobretudo direito, repita-se, a que a coisa pública seja governada com honestidade, e que se utilizem boas práticas de gestão na aplicação dos recursos públicos.
Creio que os idanhenses, de um modo geral, não estão contra a regeneração da produção agrícola, apenas possível graças a investimentos de inquestionável utilidade pública, que ainda hoje perduram, levados a cabo há mais de 75 anos, com a construção da Barragem Marechal Carmona.
E agora pergunta-se: e relativamente aos investimentos realizados no consulado de Armindo Jacinto, que resultados foram alcançados? Que mais-valias se obtiveram com a campanha da bio região? Que retorno se conseguiu com tal investimento? Objectivamente, em que se traduziu essa despesa, para além de ser uma verdadeira hemorragia de recursos públicos?
Estas são as questões a que também urge responder!