Não vou dizer nenhuma novidade: a educação faz-se, sobretudo, pelo exemplo. Creio que todos o sabem e não é necessário explicar como nem porquê. É assim com os pais na relação com os filhos, é assim com os pedagogos na relação com os instruendos e é assim, também, na relação dos líderes com aqueles que os seguem (ou se pretende que sigam).
Também é assim nas autarquias. O presidente da Câmara Municipal ou da Junta de Freguesia – assim como os demais membros dos órgãos municipais e de freguesia, eleitos pelos cidadãos para os representarem – são vistos (ou deviam sê-lo) como líderes das respetivas comunidades. O que fazem – mais do que o que dizem – influencia os cidadãos.
Os autarcas, líderes locais do poder popular democrático conquistado e instaurado em 25 de abril de 1974, têm um papel e uma responsabilidade essenciais na educação dos cidadãos para os valores e princípios democráticos, da cidadania livre e participativa, do desenvolvimento e da sã convivência e solidariedade entre todos os indivíduos e grupos da sua comunidade.
Entre esses papéis e responsabilidades, está a promoção da Cultura, nas suas múltiplas formas de expressão e graus de eruditismo. Por um lado, os autarcas devem cultivar-se, aumentando e alargando o seu conhecimento da vida e do mundo, bem como das matérias específicas com que têm de lidar e sobre as quais têm de decidir.
Por outro lado, os autarcas devem promover, sobretudo através do exemplo (como antes sublinhei), a divulgação, produção e consumo de Cultura, designadamente daquela que proporciona aprendizagens relevantes para o desenvolvimento, bem-estar e melhoria da qualidade de vida em sociedade, para além do mero lazer, convivência e entretenimento.
Por outras palavras, cabe aos autarcas – além de proporcionarem aos seus munícipes e fregueses uma oferta cultural diversificada e de qualidade – participar ativamente nos eventos e iniciativas que são levados a cabo, seja como organizadores, criadores ou executantes, seja como visitantes, espetadores ou tertuliantes. Não por obrigação ou eleitoralismo, mas sim para se cultivarem e darem o exemplo.
Ora, não é isto que acontece em diversos municípios que conheço, apesar de haver também bons exemplos a apontar, um pouco por todo o país. No concelho onde resido em permanência há uma década, contam-se pelos dedos de uma só mão as vezes que vi autarcas (do poder e da oposição) participarem ou assistirem a eventos culturais regulares – sobretudo aos menos popularuchos ou de massas (e mesmo nalguns destes…) – que não fosse por dever institucional ou conveniência política.
Em certa ocasião, aconteceu mesmo que o edil local faltou, sem se justificar, à apresentação da edição de uma revista de história local onde estiveram presentes três outros presidentes de Câmara de concelhos limítrofes, fazendo-me sentir vergonha alheia pelo desinteresse, desrespeito e irresponsabilidade demonstrados. Foi verdadeiramente deplorável.
Toda a causa tem um efeito e todo o efeito tem uma causa (uma ou mais, naturalmente). A negligência para com a vida cultural não é exceção e os efeitos (não vou elaborar sobre as causas…) são facilmente observáveis: autarcas sem dimensão cultural comportando-se sem ética democrática, desprezando o património natural e edificado, fazendo opções políticas e estéticas duvidosas, e não investindo nem apoiando suficientemente a produção, divulgação e consumo de Cultura, entre outros efeitos.
Cito da Comissão Nacional da UNESCO em Portugal: “A cultura é o que somos. A cultura molda a nossa identidade. A cultura contribui para um desenvolvimento centrado no ser humano, inclusivo e equitativo. Nenhum desenvolvimento poderá ser sustentável se excluir a cultura. Posicionar a cultura no cerne das políticas de desenvolvimento constitui um investimento fundamental no futuro [dos territórios]”. Tudo dito.