O ex-ministro das Finanças e antigo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, comunicou ao secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, que não quer integrar as listas de candidatos a deputados socialistas nas próximas eleições legislativas. Esta posição consta de uma nota enviada pelo próprio à comunicação social. No PS sempre foi visto como um rival de Pedro Nuno Santos, tendo apoiado a candidatura de José Luís Carneiro nas eleições diretas de 2023
O socialista Fernando Medina anunciou que não quer integrar a lista de candidatos a deputados nas eleições legislativas antecipadas de 18 de maio. O antigo ministro das Finanças, em comunicado enviado à comunicação social, adianta que comunicou a sua decisão ao secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos.
“Trata-se de uma decisão de natureza pessoal, depois de 20 anos consecutivos em que tive o privilégio de desempenhar elevadas funções políticas”, explica Fernando Medina.
Apesar de não integrar a lista de candidatos às legislativas, Fernando Medina diz que continuará a manter “uma participação cívica ativa, designadamente no âmbito do Partido Socialista”, garantindo estar “totalmente empenhado na vitória do PS nas próximas eleições legislativas”.
“Só a vitória do PS assegurará um projeto político de desenvolvimento e justiça social capaz de responder às necessidades e aspirações dos portugueses”, sublinha.
Mas as posições que têm vindo a ser assumidas por Fernando Medina de demarcação da actual direção do PS já não são surpresa para os socialistas e, segundo fontes contactadas pelo ORegiões, esta decisão do antigo presidente da câmara de Lisboa só têm uma leitura política imediata: uma demarcação da estratégia de Pedro Nuno Santos e um posicionamento para o futuro do partido.
“Desalinhado” com Pedro Nuno Santos
Recorde-se que, num momento de tensão da política nacional (votação da moção de confiança de Montenegro), Medina foi o único desalinhado de peso, num PS a parecer unido em torno do líder. Foi o único deputado socialista a fazer uma declaração de voto no dia em que o PS votou contra a moção de confiança de Luís Montenegro que resultou na queda do Governo.
Na altura, Medina defendeu que se “devia ter feito mais para evitar” as legislativas antecipadas, sem apontar quem, e criticou um debate de “insinuações e até calúnias”, no atual momento político. O ex-governante quis, assim, marcar uma posição, depois de ter acompanhado a disciplina de voto da bancada do PS contra a moção de confiança.
Não sendo possível antecipar os resultados das eleições legislativas antecipadas, que foram marcadas para 18 de maio, para o deputado do PS “é razoável antever que as relações entre blocos direita/esquerda, no parlamento, possa não sofrer alteração significativa”.
“O que levará a que a nova solução governativa que emergirá possa continuar a enfermar de profundas fragilidades políticas ou, pior, fique nas mãos da extrema-direita”, alertou.
Para o antigo ministro de António Costa, a crise política veio mostrar “como o debate político assente em suposições, insinuações e até calúnias continua a ganhar relevância” e corrói “alicerces fundamentais da convivência e disputa democrática”.
“Está nas ações concretas de cada um reverter este caminho”, apelou, avisando para os perigos dos “mini-ciclos” de governação. “Leva diretamente à concentração da ação política no que tende a ser mais popular, de maior efeito e de menor dificuldade, na tentativa permanente de melhoria da posição do governo nas sondagens, posição vista como o melhor antídoto para atrasar a sua queda”, apontou.
Fernando Medina estreou-se como governante em 2005, na maioria absoluta do PS sob a liderança de José Sócrates, como secretário do Emprego, tendo passado para a Secretaria de Estado da Indústria e Desenvolvimento no Governo seguinte, em 2009. Mais tarde seguiu para a Câmara de Lisboa, onde foi vice de António Costa, e acabou por suceder-lhe no cargo quando este foi eleito líder do PS, em 2014. Saiu da Câmara derrotado por Carlos Moedas, nas autárquicas de 2021, e poucos meses depois assistiu de fora à queda do Governo socialista. Após as eleições de 2022, Medina assumiu o cargo de ministro das Finanças.
No PS sempre foi visto como um rival de Pedro Nuno Santos, tendo apoiado a candidatura de José Luís Carneiro nas eleições diretas de 2023, após a queda de Costa. Ainda assim, nas legislativas seguintes concorreu como candidato a deputado, cargo que ocupava na legislatura que terminou na atual crise política.