Os bombeiros sapadores, que esta quarta-feira protestaram por melhores salários e aumento do subsídio de risco frente à Assembleia da República, desmentem categoricamente as afirmações da ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, de que estão a decorrer negociações entre o Governo e os bombeiros, dando a entender que a ministra não sabe o que diz e nem sabe sobre o que está a falar.
”A senhora ministra está mal informada ou mal assessorada. Até hoje não houve reuniões de negociação entre bombeiros sapadores e o Governo. O que existiu foi uma reunião com Paulo Simões Ribeiro, secretário de Estado da Proteção Civil, e Hernâni Dias, secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, onde apenas foram apresentadas um conjunto de ‘boas intenções’ sem apresentação de uma proposta por parte do Governo”, diz Ricardo Cunha, presidente do Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores (SNBS), que desafiou o Governo a apresentar uma proposta negocial.
“É difícil haver negociação sem uma proposta”, considera, desmentindo desta forma a ministra da Administração Interna que, em declarações aos jornalistas, se mostrava confiante ”que as negociações vão chegar a um bom termo”.
O dirigente acrescentou que na sexta-feira os representantes dos sapadores foram “chamados ao Governo para uma reunião” e, na ocasião, os secretários de Estado apresentaram “um conjunto de boas intenções que representam uma mão cheia de nada”.
Na reunião com os secretários de Estado, o Governo prometeu “eventualmente” uma reunião sobre as reivindicações dos sapadores, mas para Ricardo Cunha “não é possível negociar sem nada de concreto”. Em maio, recorda o dirigente sindical, o Governo comprometeu-se a apresentar uma proposta em junho, mas até hoje nada.
E, ”como de boas intenções está o inferno cheio”, os bombeiros sapadores prometem continuar com a luta por uma regulamentação do horário de trabalho, pela reforma aos 50 anos e por um regime de avaliação específico, entre outras condições de trabalho.
Rui Moreira desmente ministra
Situações legislativas que são da exclusiva responsabilidade do Governo, conforme fez questão de salientar Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, que considerou que a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, “não sabe o que está a dizer” quando remete responsabilidades para as autarquias sobre a remuneração dos bombeiros sapadores.
O autarca do Porto, que detém o segundo maior corpo de bombeiros sapadores, disse que “por desconhecimento” a ministra atribuiu responsabilidades na matéria aos municípios.”A senhora ministra já está há algum tempo em funções, devia estar a par da situação e, portanto, se não sabe, devia saber, e pode passar a saber a partir das nossas declarações”, referiu.
Recusando fazer “interpretações sobre motivações”, Rui Moreira apelou a que o Governo responda às reivindicações dos bombeiros sapadores, que “não custam um tostão ao Estado e serão asseguradas plenamente pelo município”.
Aliás, têm sido muitas as críticas à forma como reagiu o Governo, sobretudo dirigidas à Ministra da Administração Interna, que acabou por chutar a responsabilidade quer para o Governo anterior, quer para as autarquias.
“Há aqui muita atrapalhação por parte do Governo relativamente à reação a esta manifestação. Não só porque o primeiro-ministro não pode ignorar uma manifestação desta dimensão, principalmente no local em que ocorre, ou seja, nas escadarias da Assembleia da República, mas a ministra acaba por confundir bastante aquilo que é o seu papel: conseguir acalmar, serenar os ânimos, envolver todos os agentes relacionados com a negociação”, referem várias fontes contactadas pelo O Regiões.
As declarações da ministra Margarida Blasco, sem direito a perguntas, só serviram para ”atiçar” mais os ânimos. Segundo alguns bombeiros sapadores, contactados pelo nosso jornal, a rábula da senhora ministra da Administração Interna que, ao contrário do que dizem os Sapadores, “decorrerem negociações a bom ritmo relativamente ao estatuto de bombeiro”, não ‘cola’, o que ”estamos a pedir é a regulamentação das nossas carreiras e a melhoria de condições de trabalho. Apesar de sermos funcionários municipais, não são as autarquias que determinam as carreiras e condições de trabalho”, afirmam.
A ministra fez questão ainda de dizer que “é na mesa das negociações que se alcançam acordos e este Governo já deu provas disso. Somos um governo de diálogo, que fala com os cidadãos”, acrescentou. Ricardo Cunha está totalmente de acordo com a ministra, mas avisa que a luta pela dignificação da carreira vai continuar.