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O Cemitério de Père-Lachaise e o Mistério da Morte de Jim Morrison: Entre Mitos, Charros e Teorias de Conspiração

Nos anos 80, durante uma visita à parisiense e mítica última morada de estrelas no Cemitério de Père-Lachaise, deparei-me com um cenário que parecia mais um teatro do que uma sepultura. À entrada, fomos recebidos pela portaria do cemitério com uma simples instrução: “Não há mapa. Não precisa. É só seguir as setas vermelhas pintadas no chão.” A ideia de que a orientação era feita de forma quase abstrata, sem explicações, já dava um toque surreal à visita. No entanto, as tais setas vermelhas rapidamente nos conduziram à campa de Jim Morrison

Chegados ao local, o que se sucedeu foi uma mistura de rock, fumaça e um ritual de adoração digno de uma celebração de culto. No centro, um hype — como dizem os mais jovens —, com um gravador que, em modo repetitivo, ecoava os sons de Light My Fire e Riders on the Storm aos altos berros. O ambiente era um verdadeiro concerto minimalista, com a estátua do rosto de Morrison plantada sobre a sepultura, sendo lavada por um fervoroso seguidor. Ao redor, jovens e menos jovens, com os seus charros e garrafas de álcool, partilhavam as sensações típicas de um culto moderno. Cada um deles parecia integrar-se num ritual inusitado, um movimento contínuo de trocas de flores, fotos, e pequenos adereços simbólicos, como se fossem relíquias para quem quisesse testemunhar aquele momento quase divino.

O Cemitério de Père-Lachaise e o Mistério da Morte de Jim Morrison: Entre Mitos, Charros e Teorias de Conspiração
Foto: GZH (cemitério Père-Lachaise)

Mas o que talvez fosse apenas uma homenagem a uma figura que, para muitos, transcendia o próprio tempo, tornou-se, de certo modo, um espetáculo. Os peregrinos de ontem, talvez esquecidos dos valores que ainda davam ao rock e à liberdade do espírito, estavam ali por um só motivo: a adoração a uma lenda que nunca morreria.

Lá, no meio da turba e da fumaça, parecia um eco distante da eterna dúvida: onde está realmente Jim Morrison?

A sua morte, em 1971, continua a ser rodeada de mistério. A versão oficial? Encontrado morto numa banheira em Paris, vítima do cansaço de uma vida de excessos. Mas, como em tudo que gera lenda, a dúvida persiste e, recentemente, tem-se intensificado com teorias conspiratórias, como a mais recente que afirma que Jim Morrison pode ainda estar vivo.

A teoria, bem alimentada por documentários e artigos, foi agora renovada por um trabalho do realizador Jeff Finn. O documentário Before the End explora, com ardor, as várias possibilidades de que Morrison tenha simulado a sua morte para escapar da fama. Um dos maiores símbolos da teoria é um homem de Syracuse, Nova Iorque, conhecido como Frank X. Este operário, que aos 81 anos poderia ser considerado um reformado, tem várias semelhanças físicas com o falecido cantor. Aparentemente, Frank X teria até sido fotografado ao lado de John Densmore, o baterista dos Doors, em 2013, o que, para os mais céticos, é mais uma prova de que o vocalista dos Doors nunca terá partido.

O Cemitério de Père-Lachaise e o Mistério da Morte de Jim Morrison: Entre Mitos, Charros e Teorias de Conspiração
Foto D.R. (Frank X – Blitz)

Mas vamos fazer uma pausa aqui, para a reflexão. Se Morrison está realmente vivo, como seria possível ele continuar a viver como um simples operário, distante do glamour, da fama e dos holofotes que um dia foram sua rotina? Por mais que as semelhanças entre Frank X e o falecido ícone do rock sejam palpáveis, a lógica da vida simples e anónima não parece casar muito bem com a ideia do astro por detrás da lenda.

E, no entanto, aqui estamos, com um número crescente de teorias e documentários, criando uma espécie de novo culto em torno da sua morte, ou, pelo contrário, da sua possível sobrevivência. O que se sabe é que, enquanto os fãs seguem as setas vermelhas em busca da sepultura de Jim Morrison, as perguntas continuam sem resposta. Quem sabe, na próxima visita ao cemitério, os turistas possam, ao lado das flores e fotos, deixar também um pedido para que Jim, se ainda estiver por aí, nos envie uma pista.

Em Paris, como em muitos outros lugares, as lendas nunca morrem. E a morte, quando é misteriosa, permanece para sempre no limbo da dúvida.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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