O presidente do Instituto Nacional de Estatística (INE), António Rua, alertou esta sexta-feira para a urgente necessidade de reforçar o quadro de pessoal do organismo, que se encontra atualmente cerca de 20% abaixo do estipulado no mapa de pessoal. A preocupação foi manifestada durante a cerimónia de comemoração dos 90 anos do instituto, onde destacou os riscos de rutura funcional e perda de conhecimento técnico acumulado ao longo das décadas.
“É imperativo assegurar o rejuvenescimento dos quadros da instituição, promovendo a transferência de saber entre gerações e garantindo a continuidade dos processos essenciais à missão do INE”, afirmou António Rua perante uma plateia que incluiu representantes de várias instituições públicas e académicas.
Segundo dados apresentados pelo presidente, o número de trabalhadores tem vindo a diminuir de forma sustentada nas últimas décadas. Em 2005, o INE contava com 735 funcionários. Esse número baixou para 647 em 2015 e caiu para apenas 560 no final de 2024. Este valor representa um défice de cerca de 20% face às necessidades identificadas no plano de recursos humanos da instituição.
O responsável máximo do INE considera que 2025 poderá representar um ponto de viragem, sublinhando o impacto positivo da recente valorização da carreira de técnico superior especialista em estatística. No entanto, advertiu que “essa inversão apenas se consolidará com um esforço contínuo e planeado de recrutamento nos próximos anos”.
A gravidade da situação é agravada pela previsão de que cerca de 300 funcionários do instituto atingirão a idade legal de reforma na próxima década. “Só com equipas adequadas em número e perfil será possível manter os padrões de qualidade, independência e relevância que caracterizam o serviço público prestado pelo INE à sociedade portuguesa”, reforçou.
Durante a sua intervenção, António Rua realçou ainda a importância do portal do INE como principal meio de comunicação com o público. Em 2024, foram disponibilizados mais de 12.500 indicadores, em mais de 350 destaques anuais organizados em 25 áreas temáticas, totalizando cerca de 30 milhões de páginas visualizadas por mais de 3,5 milhões de utilizadores.
O presidente destacou também o papel crucial do instituto no combate à desinformação, apostando em estratégias de comunicação proativas e programas de literacia estatística destinados a públicos diversos. “O nosso objetivo passa por capacitar os cidadãos com ferramentas que permitam uma leitura crítica e consciente da realidade”, afirmou.
As preocupações de António Rua encontraram eco nas intervenções dos convidados. Gonçalo Matias, presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, sublinhou que o acesso e conhecimento dos dados são essenciais para uma cidadania informada e para a tomada de decisões fundamentadas, tanto a nível governativo como individual. Acrescentou ainda que “sem o INE, a Pordata não existiria”.
João César das Neves, professor da Católica Lisbon School of Business & Economics, classificou o INE como uma “instituição infraestrutural”, equiparada a serviços essenciais como água, eletricidade ou justiça. Enfatizou a integridade do instituto e alertou para as múltiplas ameaças que enfrentam hoje os organismos estatísticos: limitações técnicas, dificuldades financeiras e pressões ideológicas.
“Vivemos um momento de combate”, declarou, “em que é fundamental defender a independência e a missão do INE, sob pena de comprometermos a qualidade da informação em que baseamos o funcionamento democrático”.
A cerimónia dos 90 anos do INE serviu assim não só para comemorar a história do instituto, mas também para lançar um aviso sério quanto à urgência de garantir os recursos humanos necessários à sua sustentabilidade futura.
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