Os bombeiros sapadores, que não tem confiança nenhuma no Governo e já falam em abandonar as negociações, lembram os políticos que 2025 é ano de eleições autárquicas e, se até lá, não chegarem a um acordo, durante a campanha eleitoral ”é natural que grupos de bombeiros sapadores ‘andem atrás’ dos candidatos com cartazes a alertar para a situação dos bombeiros”. Este recado tem um alvo: Carlos Moedas que apoia as propostas ”nada sérias” do Governo.
Os bombeiros sapadores não acreditam no Governo que, segundo eles, “estão a fazer uma negociação da treta” e, por isso, encaram a possibilidade de abandonarem a mesa das negociações e partirem para acções mais musculados contra o Governo e câmaras municipais que apoiem as propostas do executivo de Luís Montenegro, que propõem “uns 50 euritos de aumentos e uns míseros 37,5 euros de subsídio de risco em 2025 e 67,5 euros a partir de 2026”.
Os bombeiros avisam que podem abandonar a reunião, marcada para o próximo dia 3 de dezembro, se o Governo não tiver a intenção de discutir seriamente a valorização da carreira – que os bombeiros sapadores dizem não ser revista há mais de 20 anos -, e o aumento de subsídios como o de risco . “Não aceitamos migalhas. Se o Governo vier com o mesmo tipo de propostas, abandonaremos as negociações e encaramos, seriamente, realizar acções mais musculados”, afirmou ao ORegiões o presidente do Sindicato Nacional de Bombeiros Sapadores, Ricardo Cunha, que promete “não mexer uma vírgula” no seu caderno reivindicativo.

Segundo Ricardo Cunha, as propostas apresentadas pelo Governo denotam uma falta de “respeito e de consideração” pelos Sapadores. “Eles deviam ter vergonha” pela proposta apresentada pela ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, pela voz da Secretária de Estado da Administração Pública, Marisa Garrido, e por Paulo Simões Ribeiro, Secretário de Estado da Proteção Civil.
“Dia 3 é o nosso último dia. Eles dizem que querem negociar. Se há hipóteses para negociar, tudo bem. Se não há, acabou-se. Então vamos para outras formas de luta”, afirma Ricardo Cunha, lembrando que discutir uma revisão salarial abaixo de 1.179 euros euros (valor que já estava combinado com o anterior governo que, entretanto, entrou em gestão) ”é inegociável”.
“Nós pedimos, pelo menos, um tratamento igual às outras forças de segurança”, diz o presidente do Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores, dizendo ter-se sentido “ofendido enquanto bombeiro” com as propostas do Governo.
Os bombeiros “não estão interessados em pagar para trabalhar”, apenas querem ter um horário semanal de 35 horas, sendo que “em média, trabalham 45 horas por semana”, querem que os suplementos passem a ser pagos 14 meses em vez de 12, e que haja um aumento dos suplementos de 30% sob o salário base, segundo Ricardo Cunha.
O Governo “diz que não pode atender ao pedido do aumento dos suplementos, e a proposta que apresenta é de um aumento de 5% em 2025 e de 10% em 2026”, mas entretanto ”desbloqueou o ordenado dos políticos”, refere Ricardo Cunha.
“Querem dar-nos um suplemento de disponibilidade permanente de 50 euros, que significa poder ser requisitado a qualquer hora do dia e a qualquer dia da semana”, acrescenta Ricardo Cunha, dizendo que este subsídio de função engloba três subsídios.
A agravar as condições dos bombeiros, que esta quarta-feira marcharam sobre Lisboa com petardos numa mão e agulhetas de fumo na outra, está o facto de quem paga não ser quem faz as leis. Ou seja, o Governo determina, mas não paga, isso cabe às câmaras municipais fazer, o que contextualiza a raiva com que os bombeiros saíram à rua.
À partida, no início desta luta dos bombeiros, a maioria das Câmaras Municipais, entre elas a de Lisboa, aceitaram a maioria das reivindicações dos bombeiros. Mas agora, segundo informações que lhe foram transmitidas pelo próprio Governo, as autarquias ”deram o dito por não dito e dizem estar de acordo com o Governo”.
Perante esta situação, algumas fontes do Sindicato Nacional dos Sapadores, lembram que as eleições para as autarquias são no próximo ano e que ”não é muito agradável para os candidatos a presidentes de câmara terem atrás de si manifestações de sapadores a manifestarem-se” – num recado directo a Carlos Moedas.