Quando se fala de virtude, pureza e de uma luta incessante contra a corrupção, é difícil não mencionar o Partido Chega. Este partido, com uma retórica que grita contra tudo e todos, apresenta-se como o farol da honestidade numa política nacional que, segundo eles, está afundada nas mentiras e traições dos outros. Contudo, ao observar as suas figuras de topo, surge uma pergunta inevitável: será que o espelho da moralidade deste partido está mesmo imaculado ou apenas rachado?
Miguel Arruda, uma das figuras mais proeminentes do Chega, é acusado de furtar malas. Sim, “furtar malas”, como se isso fosse algo que acontecesse apenas aos outros, não a quem se coloca como baluarte da ética e da justiça. Ora, não podemos deixar de destacar a palavra-chave: “alegado”. Afinal, no reino do Chega, a moralidade é algo intransigente até ao momento em que se coloca em prática… ou se foge dela com a desculpa do “alegado”. Quem diria que os ideais de um partido que promete salvar a nação de si mesma seriam postos à prova numa simples tentação momentânea, não é?
Passamos agora ao cabeça de lista mais conhecido: André Ventura, o autoproclamado guardião da decência nacional, que se vê agora investigado por incitação ao ódio. O mesmo Ventura que, no seu púlpito político, espalha palavras de intolerância, alimentando uma divisão que parece agradar-lhe enquanto estratégia. Claro, quando confrontado com as possíveis consequências legais, recua para o seguro terreno do “alegado”. O incitamento ao ódio nunca foi tão conveniente, ainda mais quando é visto como um expediente para salvar o país. Falar em “salvação” nunca soou tão contraditório.
Não podemos esquecer Pedro Pinto, o “mestre da ética”, que, segundo relatos, terá agredido um árbitro de 18 anos. Quando se fala de diplomacia e respeito pela ordem pública, há quem vá mais longe e substitua o argumento pela força bruta, como se o futebol fosse uma metáfora para a política e os problemas do país. Se o objetivo é dar um bom exemplo, este “mestre” está no caminho inverso, aplicando “soluções” à base de golpes de mão.
Pedro Frazão, que se apresenta como a personificação da honestidade e rigor, não escapou à tentação de mentir. Quando o seu compromisso com a verdade foi desafiado, teve que retratar-se publicamente, um gesto que, por mais que tardiamente, revela o lado falível de quem se apresenta como inquebrantável. A política, como bem sabemos, está cheia de artistas da manipulação da verdade, e Frazão, aparentemente, não ficou fora do espetáculo.
A lista de situações comprometedores continua com Rui Paulo Sousa, envolvido numa batalha judicial sobre pensões de alimentos. De quem defende as famílias, espera-se um comportamento exemplar, mas parece que na sua vida pessoal o exemplo não é seguido com a mesma dedicação. José Paulo Sousa, outro Deputado do Chega na assembleia regional dos Açores, foi apanhado a conduzir com taxa crime de 2,25g/l de álcool no sangue. Mas, claro, a consistência é para os outros, certo?
E não nos podemos esquecer de João Tilly, acusado de difamação contra a fundadora do Chega, e Cristina Rodrigues, que apagou milhares de e-mails do PAN. Estes episódios pintam um quadro curioso de um partido que se diz transparente, mas cujos membros parecem estar sempre envolvidos em questões que põem em dúvida esse mesmo compromisso. A defesa da moralidade, afinal, é uma bandeira que não parece tão visível quando os próprios membros a escondem atrás de atos questionáveis.
E, como se isso não fosse o suficiente, temos Marcus dos Santos, detido por imigração ilegal, e Filipe Melo, cujo salário de deputado foi penhorado. Estes episódios são apenas mais uma demonstração de que, por mais que o Chega tente se vender como um partido moralista, os seus próprios membros têm as suas contas a ajustar com a justiça. Mas, como sempre, tudo “alegadamente”.
A situação agrava-se com Eduardo Teixeira, que foi investigado por assinaturas falsas no Parlamento, e Ricardo Dias Pinto, penhorado e sem bens. São mais pedras atiradas contra a imagem de um partido que parece não reconhecer as rachaduras no espelho da sua própria ética. A moralidade que pregam é uma moralidade que, como um espelho sujo, reflete apenas as suas próprias contradições.
E como se tudo isto não fosse suficientemente escandaloso, temos o caso de Nuno Pardal, acusado de prostituição de menores, com relações sexuais com um jovem de 15 anos. A gravidade da acusação é de tal ordem que não há palavras suficientes para a descrever. No entanto, o Chega, com a sua inusitada capacidade de ignorar as falhas dos seus membros, prefere o silêncio. O silêncio é, sem dúvida, uma boa solução quando não se sabe o que mais dizer.
É este o partido que se levanta contra a “decadência moral” dos outros. Mas, ao olhar mais de perto, vemos que, ao invés de um exemplo de pureza, o Chega é apenas um espelho rachado, onde a moralidade se perde e a verdade se esconde nas sombras das suas próprias contradições. São eles os paladinos da moral, mas com um reflexo que se quebra à medida que nos aproximamos.
Ao fim e ao cabo, o Chega está a tentar vender-nos a ideia de que a política pode ser limpa e moralista, mas o seu espelho está estilhaçado, refletindo as imperfeições de um partido que se esqueceu de ser honesto consigo mesmo. E assim, continuam a apontar os dedos aos outros, com um espelho rachado nas mãos.