Na arena política, muitas vezes, a sensação de poder parece criar uma névoa densa que obscurece a visão dos governantes e autarcas. Parece que, à medida que se sobe na hierarquia do poder, há uma tendência a acreditar que a lei não se aplica a todos, que as exigências dos cidadãos podem ser ignoradas e que, ao eleito, basta a sua palavra para que as decisões sejam justificadas. Essa falta de sensibilidade para com a realidade da vida quotidiana dos cidadãos é, na maior parte dos casos, o reflexo de uma desconexão alarmante entre os governantes e o povo que os elegeu. E é aqui que entra a figura do jornalista, o vigilante, o olho atento que, com a sua crónica de opinião, é muitas vezes a única barreira contra a tentação dos políticos em se desviarem da sua função primordial: servir ao interesse público.
A expressão “dar-lhes com o Pau” faz parte do linguajar popular, mas é uma metáfora poderosa quando utilizada no contexto político. Não se trata de uma agressão física, mas sim da necessidade de confrontar os políticos com a verdade que eles parecem querer ignorar. Através da escrita, os jornalistas são muitas vezes os únicos que têm o privilégio de questionar, de desafiar, de alertar. E, por mais desconfortável que seja, é através dessas “pauladas” que os políticos são chamados à responsabilidade.
Na realidade, é inadmissível que, em um Estado democrático, os governantes tratem os cidadãos como meros espectadores, como se suas exigências fossem secundárias. Quantas vezes ouvimos, nas ruas e nas repartições públicas, queixas sobre a ineficácia dos serviços, a burocracia insuportável e a falta de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida? Enquanto isso, os políticos, em sua torre de marfim, continuam a fazer promessas vazias e a defender interesses próprios ou partidários, esquecendo-se das pessoas reais que enfrentam dificuldades todos os dias.
Muitas vezes, estes “servidores do público” acham que podem se permitir a retórica vazia, e que suas palavras, repetidas insistentemente, se transformam em verdades absolutas. O problema é que essas verdades existem apenas nos discursos e nas mentes daqueles que as proferem. O povo, contudo, não é cego, nem surdo, nem mudo. As pessoas sabem reconhecer a diferença entre promessas e ações concretas. Quando um político fala sobre a melhoria das condições de vida, mas os cidadãos continuam a enfrentar os mesmos problemas, essa retórica cai por terra. O jornalista, ao dar-lhe com o Pau, revela essa contradição e desmascara a hipocrisia de quem detém o poder.
E não se pode permitir que esses mesmos políticos, por teimosia ou conveniência, se afastem da verdade. Muitos já receberam as suas “pauladas” ao longo dos anos, mas continuam a ignorar os alertas, acreditando que podem escapar das suas responsabilidades. É preciso continuar a bater, a questionar, a incitar a reflexão. A democracia não é um cheque em branco dado aos eleitos; é uma relação de prestação de contas, onde o povo exige resultados, exige respeito. E se os políticos não respondem de maneira responsável aos seus atos, então é necessário que o jornalista continue a ser o agente de correção, o que, com a sua escrita acutilante, impõe limites àqueles que pensam estar acima da lei.
Esta atitude crítica, longe de ser um mero exercício de oposição, é um dever ético e democrático. O jornalista não deve se deixar intimidar pela proximidade ou pela pressão do poder, mas, sim, deve desafiar os governantes sempre que necessário. O povo precisa saber que os seus direitos estão a ser respeitados, que a sua voz tem impacto, e que os responsáveis pela gestão pública não podem ser imunes às críticas e ao escrutínio.
Em suma, dar-lhes com o Pau, neste contexto, é mais do que uma expressão popular. É um lembrete de que o papel da imprensa é fundamental para garantir que os políticos não se acomodem, não se desconectem da realidade e que, acima de tudo, cumpram com a responsabilidade que lhes foi delegada: a de servir o bem comum. Até que o político entenda isso, a “paulada” deverá continuar, pois, por mais que resistam, só assim se pode garantir que o poder nunca será usado em benefício próprio, mas sempre em benefício do povo.