Juro que tentei não falar do deputado do Chega, Arruda, que alegadamente palmava malas no aeroporto e depois vendia, diz-se, as roupinhas de marca na Internet. Juro que andei aqui duas semanas a dizer que o caso não valia a nossa atenção. Mas, subitamente, ontem, o deputado Arruda sai-se com uma publicação nas redes sociais que é de rebolar a rir. E quando se atinge este ponto, a malta tem de ter a seriedade de perceber o que se passa. Se o homem gamava malas, pode ser uma doença, uma mania, um impulso desde a infância. Agora, ser um bruto analfabeto e estar eleito e sentado na Assembleia da República é grave. Vamos ao textinho do Arruda. Reza assim:
«@miguelarrudapt
Ao deputado
@Pedro_Frazao_
Os seus ataques vis e cobardes, nesta rede social, merecem hoje e finalmente a minha resposta. Só tenho uma bandeira nacional, a portuguesa, é a única que amo e ostento orgulhosamente, e nunca levarei outra estrangeira para eventos políticos ou partidários. Não pertenço a nenhuma organização secreta de numerários e fanáticos, com lideres no estrangeiro e Portugal acusados e condenados por pedofilia. Não convido, outros jovens a pertencerem a uma alegada Obra de Deus, nem me autoflagio com silicio ao mímino sinal de pecado. Sempre lidei bem com a minha sexualidade, sempre fui e serei heterosexual.».
É tanta beleza neste parágrafo que uma pessoa nem sabe por onde começar.
Tentemos. A frase mais bonita tem quatro erros de português e uma denúncia encoberta. A saber: «Não convido, outros jovens a pertencerem a uma alegada Obra de Deus, nem me autoflagio com silicio ao mímino sinal de pecado». A primeira vírgula não está lá a fazer nada. A sociedade Opus Dei chama-lhe o Arruda maleiro de “Obra de Deus”, a ver se passa. Esclareça-se: a Opus Dei não é proibida em Portugal. A organização está presente no país e actua como uma prelatura pessoal da Igreja Católica, com membros e actividades legais. Pessoalmente, não gosto. Mas isso sou eu, jacobino. E o bocadinho «(…) nem me autoflagio com silicio ao mímino(…)» é um chorrilho de palavras que nem sequer existem. “Autoflagio” é desconhecido, “silício” leva acento e “mímino” deve ser o filho de um Mimo, aqueles artistas que fazem mímica…
Depois, o grande deputado não-inscrito escreve, para dissipar dúvidas: «Sempre lidei bem com a minha sexualidade, sempre fui e serei heterosexual». Ora, eu não sei o que é um “heterosexual”. Com dois ésses ainda lá vou, mas só com um leva-me a imaginação a pensar que o moço se dedica ao onanismo e a espreitar fotografias vintage da Samantha Fox em sites da Internet para reformados.
Também chama a atenção a expressão «(…) e nunca levarei outra estrangeira para eventos políticos ou partidários.». Outra, refere, é sobre a bandeira. Mas o rapaz é republicano, está visto, e adora o Bordalo Pinheiro, que teve de adaptar à pressa a feia e horrível bandeira verde e rubra que nos calhou em sorte. Ainda bem que o Bordalo trabalhou a esfera armilar, senão a bandeira parecia de um enclave da República Centro Africana.
Em suma: o Arruda da bagagem nunca encontrou nas malinhas uma bandeira do Inter de Milão, do Atlético de Madrid, da Galiza, dos EUA…. Saíam-lhe sempre bandeiras
portuguesas e roupa de catraios de sete a dez anos, além de saias e calças. Terá vendido lingerie sexy ou guardado para si, sabe-se lá para quê?
A gente devia pedir ao A Guiar Branco que expulsasse o Arruda por não saber escrever português, sequer. Já me estou marimbando para as malas e para o onanismo, mais a saudação romana e andar de rabo à mostra. Ter um (se calhar mais) deputais analfabetos cria um frio e terror na espinha assustador, inadmissível e mostra a qualidade da mala, perdão, malta que anda no Parlamento a fazer leis para nosotros (desculpa, Arruda, adoro galego e castelhano).
Ponham-no na rua por mau comportamento e ignorância. E façam o mesmo aos outros, que só nos causam bergonha.