Ser um verdadeiro apreciador de café nunca foi uma tarefa fácil. O sabor, a intensidade, o ritual da preparação – tudo isso exige uma devoção quase religiosa. Mas agora, à medida que os preços do café continuam a subir, há algo que nos faz questionar: será que, em breve, a nossa chávena matinal vai passar a ser tratada como uma bebida de luxo? Se continuar assim, o café não só rivaliza com o preço do whisky bourbon, como pode mesmo ultrapassá-lo, tal como o álcool substitui o gás carbónico numa noite de celebração
Eis o cenário que se desenha: o preço da matéria-prima do café atingiu os valores mais altos de sempre e, por mais que tentemos ignorar, parece que o aumento não vai estagnar tão cedo. E quem é que não viu já os preços a subir de forma discreta nas prateleiras dos supermercados e, claro, na conta de restaurante? Pois, a bebida que nos acompanha desde o nascer do dia até o meio da tarde, tornando-se a musa da nossa produtividade, está a caminhar para um destino inesperado – o dos preços astronómicos.
A culpa, como não podia deixar de ser, é de vários fatores que se somam como um caldo perfeito de desgraça para os amantes do café. Segundo especialistas, a tempestade tropical Sara, que abalou as plantações, é uma das culpadas do aumento. E quem diria que uma tempestade poderia ser responsável por transformar um simples expresso num artigo de luxo? E a isto juntam-se as quebras na produção do Brasil, país que, por sua vez, é o maior exportador mundial de café. Por fim, temos o conflito no Mar Vermelho a pressionar a cadeia de fornecimento, tornando a bebida mais cara de cada vez que se tenta comprar um grão.
Com todos esses ingredientes na mistura, a tendência é de que o aumento dos preços continue a fazer-se sentir nos próximos meses. E o pior é que, ao que tudo indica, a escalada não vai parar tão cedo. Para quem já se sente perdido a pagar o preço de uma chávena de café que mais parece um luxo, prepare-se. Em breve, o café pode ser algo mais raro e caro do que o whisky bourbon, essa bebida de ocasião que muitos reservam para momentos especiais. O que será do pobre consumidor? Um bilhete de lotaria? Porque quem ama café, a partir de agora, vai precisar de muita sorte para manter o seu vício.
Talvez seja a altura de começarmos a questionar se não estaremos todos prestes a ser elevados à categoria de “nobres” consumidores de café, forçados a apreciar cada gole como se estivéssemos em uma degustação exclusiva. Só falta agora encontrar uma adega especializada no grão e criar, quem sabe, uma “carta de cafés” com sugestões para acompanhar charutos e bons vinhos.
Se a tendência se mantiver, o café que antes era bebida do povo poderá, em breve, ser um luxo. E nós, pobres mortais, poderemos ser forçados a fazer escolhas difíceis: ou o café, ou o whisky.
Mas quem sabe, talvez a resposta seja simples: o futuro será dos “cafés premium”, e nós, sempre fiéis à nossa xícara de energia, tornaremos o café o novo ouro negro. O café pode até ser caro, mas a energia que ele nos dá… essa não tem preço!