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O Efeito Borboleta da Política: Como o Tribunal Constitucional Construiu um Labirinto para a Coligação PSD-CDS

No grande palco da política nacional, onde a arte de manipular siglas e nomes tem tanto peso quanto promessas eleitorais, surge mais um episódio digno de uma comédia de erros. A novela da coligação entre PSD e CDS, que estava destinada a brilhar nas eleições legislativas de 18 de maio, sofreu uma reviravolta digna de um final de temporada inesperado: o Tribunal Constitucional (TC) decidiu que os dois partidos não podem usar a designação “Aliança Democrática” (AD), agora que o Partido Popular Monárquico (PPM) saiu da aliança. Afinal, se há algo que a política portuguesa nos ensina é que, quando os acordos não são cumpridos, o nome da coligação também não se mantém.

O TC, com a sua costumeira pompa e circunstância, pôs a mão na massa e chumbou a ideia de continuar com o nome AD, acusando-o de “potencial indução em erro”. A decisão, redigida pela juíza Dora Lucas Neto, alegava que manter a sigla AD poderia fazer o eleitorado acreditar que os monárquicos estavam na jogada, quando na realidade já se tratava de uma dupla de dois partidos com visões completamente diferentes sobre a República. Afinal, e o mais importante, como se o eleitor português fosse tão ingênuo a ponto de confundir um “pacto republicano” com a entrada de um novo “rei” na cena política.

Mas o mais curioso nesta história não é tanto o veredicto, mas o facto de o Tribunal Constitucional ser, ele próprio, um espelho da política portuguesa: um espaço onde se fazem disputas, uns votos vencem e outros ficam para segundo plano, e onde se fazem previsões tão exactas quanto a previsão de tempo no verão algarvio. O que era para ser uma formalidade – uma simples coligação de dois partidos em busca de votos – transformou-se num dilema de identidade que nenhum cartaz publicitário pode resolver.

E o que dizer das reações dos principais protagonistas? Hugo Soares, o líder do PSD, que um dia encheu a boca a anunciar que a união entre o PSD e o CDS poderia continuar com a gloriosa sigla AD, viu-se agora com um problema de última hora: rebranding à pressa. Como quem vai para o cabeleireiro a correr antes de um evento importante, a coligação terá de se reinventar, arranjar outro nome, de preferência que cative, mas sem o peso da História ou o risco de confundir ainda mais o eleitorado. Se já não fosse difícil agradar a todos os portugueses, agora, além de políticas, têm de vender uma nova marca.

Na balança das sondagens, a coisa não é fácil: as sondagens, feitas com o nome “Aliança Democrática”, já estavam a ser aplicadas como se fossem a solução para a vitória eleitoral. Agora, o “novo nome” terá de ser sondado e, como se o eleitorado tivesse uma memória infinita, todos os cálculos podem ir por água abaixo.

Ah, mas não nos podemos esquecer da verdadeira joia da coroa deste processo: a dissidência no próprio Tribunal Constitucional. Diz-se que o vice-presidente, aquele que parece sempre ter uma opinião contrária à maioria, foi voto vencido nesta decisão. Mas claro, é sempre bom ter uma oposição interna para temperar os processos, principalmente quando o tema em questão é algo tão relevante quanto o nome de uma coligação. Tal como na política portuguesa, onde cada passo é dado com uma mistura de vaidade e prudência, o próprio Tribunal não foge à regra e, por vezes, a decisão de uma maioria parece mais um reflexo do que seria mais politicamente conveniente do que de um interesse genuíno pelo bem comum.

Agora, os partidos terão de decidir qual será o novo nome. Entre as alternativas, algumas brincadeiras já começam a surgir, como “União Patriótica”, “Futuro de Portugal”, ou até “A Nova Aliança”, como se o próprio conceito de aliança estivesse em risco de extinção, tal como os dinossauros ou as promessas políticas de transparência.

E por fim, que lição podemos retirar deste pequeno incidente? Em primeiro lugar, a eterna dificuldade da política portuguesa em encontrar estabilidade, quer nas alianças, quer nos nomes. Talvez, como o Tribunal Constitucional bem demonstrou, o nome de uma coligação não seja apenas uma escolha de marketing eleitoral, mas um reflexo de um país que ainda não sabe muito bem quem é, ou, pelo menos, como se quer chamar. O nome é o primeiro passo, a identidade vem depois… E a identidade, por vezes, também se pode mudar.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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