Quarta-feira,Março 19, 2025
15.8 C
Castelo Branco

- Publicidade -

Pergunta sem Resposta?

Um amigo, bem jovem, desafiou-me a responder ao seguinte: o que farias se tivesses algum dinheiro disponível (digamos 200 mil euros), saúde, vontade para avançar com algo diferente e muito tempo disponível?

Referiu ser para um trabalho da escola, na disciplina de Cidadania, onde o que era pedido seria algo “fora da caixa”, diferente de viagens ou negócios, não a profissão que gostariam de ter mas algo MESMO louco (mas possível e realizável). “Tou sempre a pensar nesses casos hipotéticos, acredito que um dia destes isso possa ser possível”, rematou.

Penso que a ideia do professor não andava à volta do sentido da vida, questionando filosoficamente acerca do propósito e significado da existência humana, da felicidade. Estaria mais dentro da ideia de sonho quase inalcançável mas que, por magia, se tornava possível. O mestre queria baralhar a cabeça dos jovens, na esperança que ao “magicarem sobre o assunto” chegassem a algum lado…ou a lado nenhum, o que, neste caso, vai dar ao mesmo.

Também eu entrei no jogo. Realizar um sonho é concretizar um objetivo que, depois de alcançado, permite que se avance para outros desafios. Felicidade procura-se, realizar um sonho experimenta-se. Felicidade é algo que se tenta atingir sempre que possível, tentando encontrar a fórmula para repetir.

Para o Budismo, o caminho é o desapego, não depender de nada, viver intensamente o momento, mas quando passa acabou, apenas deixando um rasto que aumente o nosso conhecimento. Não deixar que a ambição nos domine. Com desapego não há sofrimento, apenas resta a dor física, que deve ser aceite caso seja impossível vencer.

No Ioga, o relaxamento do corpo também é ajudado pela meditação (sentir e fixar a atenção na respiração, concentrar-se exclusivamente numa figura ou imagem, deixar os pensamentos fluirem como nuvens levadas pelo vento), aprendendo a viver o presente. A descontração do corpo, sentir-se pesado e calmo, ajuda a libertar a mente e não sofrer por antecipação.

É essa a solução da filosofia oriental para a felicidade, que por vezes se confunde com religião, nem sempre compreensível para um ocidental.
E para o ocidente, o que é felicidade? Saúde, amor e estabilidade financeira?
A ideia de felicidade não é uma aspiração recente. Ela fez parte das primeiras reflexões filosóficas sobre ética, que foram elaboradas na Grécia antiga. A referência filosófica mais antiga de que se dispõe sobre o tema é um fragmento de um texto de Tales de Mileto.

Segundo ele, é feliz “quem tem corpo são e forte, boa sorte e alma bem formada”. Platão considerava que todas as coisas têm a sua função, cabendo à alma ser virtuosa e justa. Aristóteles concluiu que a maior virtude da nossa “alma racional” é o exercício do pensamento através da política. Epicuro realça a importância do prazer (hedonismo).

Com o fim do mundo helénico e o advento da Idade Média, a felicidade desapareceu do horizonte da filosofia. Para as teorias cristãs, mais do que a felicidade, o que conta é a salvação da alma, através da oração e da prática do bem, ou mesmo pelo sofrimento virtuoso. Mais tarde, Kant, considera que a felicidade se coloca no âmbito do prazer e do desejo. Russell conclui que a felicidade é a eliminação do egocentrismo.

Lembro-me de um livro escrito por um psicólogo (não me lembro do nome do autor), que narra a sua viagem em busca do segredo da felicidade. Não era mais um exemplo de auto-ajuda, panaceia miraculosa de supermercado, antes procedia ao levantamento de algumas respostas filosóficas, cientificas, religiosas ou mesmo de quem não procura caminhos, apenas vive o dia a dia, sem aspirações. A resposta do livro encontrou-a numa citação do escritor Lobo Antunes: “A felicidade não passa pelo sucesso ou pela fama. Passa por uma paz interior que eu ainda não encontrei”.

A pergunta do tal amigo fez-me meditar e, confesso, pesquisar áreas que pouco domino. Não encontrei respostas, apenas perguntas. Mas será que é nessa incerteza e dúvida que se vislumbra um caminho, seguindo pensadores como Montaigne?

A vida apenas quer que sejamos felizes, vivamos cada dia na procura da nossa essência. Mas não percamos os nossos sonhos, desejos esses que devem permitir procurar fazer aquilo que sempre idealizámos e nunca tivemos a ousadia ou a possibilidade de fazer. Esta reflexão é essencial para nos situarmos, mas não devemos ficar parados eternamente à procura de respostas, devemos dar o primeiro passo e procurar concretizá-las… o resultado, logo se vê. A felicidade é um estado, a realização do sonho é um risco.

Podemos senti felicidade quando praticamos voluntariado ou tocamos piano;
realizar um sonho passa por abrir um negócio ou comprar uma casa ou um Ferrari;
a liberdade de viajar de mochila às costas, sem rumo, pode trazer felicidade.
Alcançar objetivos e sentir -se feliz podem misturar-se, confundirem-se, mas são
conceitos distintos.

- Publicidade -

Não perca esta e outras novidades! Subscreva a nossa newsletter e receba as notícias mais importantes da semana, nacionais e internacionais, diretamente no seu email. Fique sempre informado!

Partilhe nas redes sociais:
Joaquim Correia
Joaquim Correia
“É com prazer que passo a colaborar no jornal Regiões, até porque percebo que o conceito de “regiões” tem aqui um sentido abrangente e não meramente nacional, incluÍndo o resto do mundo. Será nessa perspectiva que tentarei contar algumas histórias.” Estudou em Portugal e Angola, onde também prestou Serviço Militar. Viveu 11 anos em Macau, ponto de partida para conhecer o Oriente. Licenciatura em Direito, tendo praticado advocacia Pós-Graduação em Ciências Documentais, tendo lecionado na Universidade de Macau. É autor de diversos trabalhos ligados à investigação, particularmente no campo musical

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques

- Publicidade -

Artigos do autor

Não está autorizado a replicar o conteúdo deste site.