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Afundanço do Titanic dos impostos de Trump

Imagine, caro leitor, um mundo onde duas potências decidiram resolver as suas divergências através de um método tão subtil como um murro num serviçot de porcelana Ming: impor taxas aduaneiras sobre… alicates. Sim, leu bem. Alicates. Não espadas, não poemas, não diamantes sintéticos. Alicates. A China, na sua infinita sabedoria confuciana, retalia cobrando 30% sobre Nestum — porque, como todos sabemos, o caminho para o coração de um Trumpista é através da sua papinha infantil. Enquanto isso, do outro lado do espelho, os Estados Trumpistas da América (ETA) decretam que os telemóveis’ devem custar mais do que um transplante de fígado em Caracas. Tudo isto, é claro, para “proteger a economia nacional”. Ou, traduzindo para português claro: para garantir que o cidadão comum continue a pagar o preço de três rins por um par de calças de ganga, feito por mãos invisíveis em Xangai.

O que temos, afinal, senão uma dança macabra de tostões, onde cada taxinha é um passo coreografado para nos distrair do verdadeiro espectáculo? Enquanto os líderes mundiais se entretêm a atirar papéis de impostos como confettis num carnaval de horrores, as fábricas fecham, os desempregados multiplicam-se como cogumelos após chuva ácida. O único crescimento económico visível é o da conta offshore de um qualquer oligarca a rir-se, sotto voce, das custas do rebanho. Pois também ele lucra com o vai acima, vai abaixo da “bolsas” do mundo. Quando desce, compra. Quando sobe, vende.

Não surpreende, pois, que os “especialistas” comecem a emergir das tocas como ratos proféticos. O Instituto Lusitano de Prognósticos Económicos (ILPE), por exemplo, publicou um estudo revolucionário: “Se taxarmos o ar que respiramos em 15%, garantimos a soberania atmosférica nacional”. O relatório, obviamente financiado por uma startup que vende garrafas de oxigénio algarvio de luxo, conclui que “a respiração clandestina é uma ameaça à balança comercial”. Entretanto, a Universidade de São Bento da Palhaçada (certificação revogada em 1983, mas quem repara?) propõe que a União Europeia imponha uma taxa sobre a luz solar importada do Saara, “para proteger os nossos queridos produtores de nevoeiro patriótico”.

E o pior? Há quem leve isto a sério. Já se fala em criar um Imposto sobre a Melancolia (para compensar a queda na produtividade dos millennials), ou em taxar as horas de sono não trabalhadas. O ministro das Finanças de um país que delicadamente omitirei — mas cuja capital rima com “Lisboa” — chegou a sugerir, entre gargalhadas e um copo de whisky sem gelo, que “os cidadãos deveriam pagar uma taxa por cada vez que respiram de forma demasiado socialista”.

Mas deixemos o circo e falemos do elefante na sala — ou melhor, do escravo na sala. Porque é isto que está por trás da cortina de fumo dps impostos aduaneiros: um jogo geopolítico onde os peões são operários a ganhar menos por dia do que uma meia de leite em Ponte-de-Sôr. Enquanto nos entretemos a discutir se o aço chinês é cinco por cento mais caro, ninguém pergunta se as mãos que o forjam recebem quatro cêntimos por hora. Nem se o tigo do Nestum, que alimentam os bebés Trumpistas, é produzido por crianças que nunca verão um pedaço de chocolate.

A solução? Simples, mas herética: que o resto do mundo adulto — sim, incluindo nós, os eternos “resto” — se reúna numa sala da ONU (preferencialmente sem o tapete feio dos anos 70) e assine um tratado comercial livre de taxas… mas não de ética. Que se estabeleça um preço mínimo global para a dignidade humana: quem pagar menos à mão-de-obra ou use escravos, paga mais impostos. Quem explorar, é excluído. E quem choramingar — olá, ETA — que vá comprar a sua liberdade numa loja de aeroporto, entre livros de autoajuda e isqueiros com a bandeira confederada.

Haverá esperança? Talvez. Enquanto houver um grão de arroz feito no Vietname que custa menos do que a hora de um trabalhador, ou um par de ténis fabricado em condições dignas de um filme de terror sangrento, há sempre a possibilidade — remota, frágil, quase acidental — de que alguém, nalgum lugar, decida que chega de dançar conforme a música dos cifrões. Até lá, caro leitor, sugiro que compre alicates portugueses. Ou brasileiros. Ou marcianos. Desde que não sejam feitos por escravos, crianças ou trumpistas.

Nota: O autor, num acto de rebeldia pré-1990, ao ser oriundo de um passado remoto, continua a recusar-se a usar “contacto” sem o “c” que o Acordo lhe roubou. Para questões comerciais, escreva para o Pólo Norte. Ou ao “Egito”. Eles lá sabem.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista 2554, autor de obras de ficção e humor, radialista, compositor, ‘blogger’,' vlogger' e produtor. Agricultor devido às sobreirinhas.

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