Sexta-feira,Março 14, 2025
4.2 C
Castelo Branco

- Publicidade -

Mau dormir destrói vida de metade dos Portugueses

Portugal enfrenta uma crise silenciosa que afeta metade da população: a insuficiência de sono. Segundo o pneumologista Joaquim Moita, especialista em sono, os portugueses dormem notoriamente pouco e mal, um problema com consequências devastadoras para a saúde física e mental dos cidadãos – lê-se no mais recente estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Portugal destaca-se negativamente como o país da OCDE que mais consome fármacos para dormir, um fenómeno que o especialista classifica como “uma praga”. O recurso frequente a benzodiazepinas é particularmente preocupante, pois além de perderem eficácia após algumas semanas, são altamente aditivas e não melhoram a qualidade do sono.

“A sociedade portuguesa está organizada para que se durma pouco”, afirma categoricamente o especialista. Metade dos portugueses dorme menos de seis horas e meia por dia, muito abaixo das sete a nove horas recomendadas para um adulto entre os 18 e os 65 anos, afirma ainda o citado especialista.

Esta privação de sono tem efeitos imediatos e a longo prazo. No imediato, manifesta-se em cansaço, sonolência, ansiedade, problemas de memória e dificuldades de concentração. A médio e longo prazo, as consequências são mais severas: diminuição da imunidade, aumento significativo do risco de doenças cardiovasculares (hipertensão, enfarte, AVC), desenvolvimento de diabetes e até maior propensão para certos tipos de cancro.

O problema começa cedo. As crianças e adolescentes portugueses dormem menos do que o recomendado, com aulas a começarem demasiado cedo, impedindo a exposição à luz solar que é fundamental para a produção de neurotransmissores essenciais para o despertar. “A irritabilidade e as dificuldades de concentração de algumas crianças estão a ser confundidas com défice de atenção e hiperatividade quando, na verdade, o problema está na falta de sono”, alerta Moita.

Entre os distúrbios do sono que mais afetam os portugueses, destaca-se a Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono, que atinge 30 por cento da população, e a insónia crónica, que afeta cerca de 10 por cento dos cidadãos. A relação entre a apneia do sono e doenças

cardiovasculares — a principal causa de morte em Portugal — é extremamente forte, com 80 por cento das pessoas que vivem com esta condição a sofrerem de hipertensão e arritmia.

O especialista desmistifica ainda um mito comum: “A ideia de que é possível recuperar de uma noite mal dormida é falsa. Ao perder uma noite, perde-se para sempre.” A insuficiência de sono impede o cérebro de processar adequadamente as memórias e não permite a recuperação de danos a nível cardíaco ou do sistema imunitário.

Como alternativa aos medicamentos, Moita recomenda a terapia cognitivo-comportamental e a aplicação das “regras do sono”: deitar e acordar sempre à mesma hora (incluindo aos fins de semana), manter uma alimentação saudável, praticar exercício físico, evitar cafeína após o almoço e álcool à noite, controlar o uso de dispositivos eletrónicos e apostar em técnicas de relaxamento ao deitar.

Os números são claros e preocupantes: estamos perante um problema de saúde pública que exige uma resposta sistémica. Nos EUA, experiências de atraso no início das aulas resultaram em melhor rendimento escolar, mas em Portugal, “nem a sociedade, nem a vida dos pais está organizada para que isto aconteça”, conclui o especialista.

- Publicidade -

Não perca esta e outras novidades! Subscreva a nossa newsletter e receba as notícias mais importantes da semana, nacionais e internacionais, diretamente no seu email. Fique sempre informado!

Partilhe nas redes sociais:

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques

- Publicidade -

Artigos do autor

Não está autorizado a replicar o conteúdo deste site.