O jornalismo independente enfrenta uma crescente ameaça em Portugal, que não se resume apenas à censura governamental ou às pressões corporativas. Uma das suas maiores adversidades surge de um inimigo mais insidioso: os assessores de imprensa que outrora foram jornalistas. Estes indivíduos, que durante a sua carreira jornalística demonstraram falhas, optaram por abandonar a ética da profissão em troca de uma posição confortável no sistema camarário, tornando-se contratados como funcionários públicos.
A transição de jornalista para assessor de imprensa é um fenómeno que se tem tornado cada vez mais comum e que acarreta consequências desastrosas para a liberdade e qualidade da informação. Antigos membros da classe jornalística usam agora as suas habilidades para servir como megafones do sistema político, manipulando a informação para favorecer agendas institucionais e políticas.
O problema reside na transformação de jornalistas incompetentes em propagandistas. Durante o seu tempo nas redações, muitos já revelavam uma tendência para a parcialidade e falta de rigor, características agora exacerbadas no seu novo papel. Como assessores, criam e disseminam notas de imprensa que frequentemente mascaram propaganda como notícias legítimas. Estas notas, repletas de elogios e auto-elogios, destacam feitos banais das câmaras municipais e outras entidades governamentais, tentando convencer a opinião pública da eficácia e benevolência das suas ações.
A proliferação destes assessores resulta numa paisagem mediática contaminada por notícias enviesadas e desprovidas de substância. Em vez de informar e educar o público, muitos meios de comunicação acabam por reproduzir acriticamente estas notas de imprensa, abdicando do seu papel de vigilantes da verdade e da democracia. A consequência é uma desinformação generalizada, onde o cidadão comum é induzido a acreditar numa versão distorcida da realidade.
A ética jornalística, que deveria ser o pilar da profissão, é constantemente violada por aqueles que, movidos pela conveniência e oportunismo, preferem a segurança de um cargo público à incerteza e rigor da verdadeira prática jornalística. Estes assessores, agora verdadeiros ratos de esgoto da informação, carecem de qualquer compromisso com a verdade, focando-se exclusivamente em promover as virtudes do seu empregador.
É imperativo que a sociedade portuguesa reconheça e combata este fenómeno. A formação e integridade dos jornalistas devem ser protegidas e incentivadas. Só assim será possível garantir que a imprensa mantenha a sua independência e continue a cumprir o seu papel essencial na democracia. A complacência com a proliferação de assessores de imprensa sem escrúpulos não é apenas um desrespeito pela profissão jornalística, mas uma ameaça direta à qualidade da informação e, em última análise, à própria democracia.
A verdadeira notícia não deve ser um instrumento de propaganda, mas sim um reflexo honesto e crítico da realidade. É responsabilidade de todos nós, jornalistas e cidadãos, assegurarmos que os megafones do sistema não abafem as vozes da verdade.