Quem visitar Goa, não deixe de passar por Aldona, terra de lendas, tradição e música.
Recebi mensagem amiga que lamentava o desvirtuar da identidade da comunidade católica goesa, situação semelhante à que acontece em Macau e em outros territórios marcados pela presença histórica portuguesa. Com o passar do tempo e a globalização, os lugares vão perdendo as características culturais que diferenciam as populações.
Em breve divulgaremos as atividades da ONG – Communicare Trust, que muito tem lutado pela divulgação e preservação das raizes portuguesas em Goa.
Os Santos Populares, St° António, S. João Batista, o Precursor, e o Apostólico S. Pedro, continuam a ser celebrados em muitos lugares de Goa, embora por vezes as festas se tenham transformado em
meras feiras de comidas e bebidas, Afinal, à semelhança do que se passa nos arraiais de Lisboa ou do Porto…
Sublinhe-se que, por força de condicionalismos locais, a tradição goesa dos três Santos é bastante diferente da tradição portuguesa.
De facto, enquanto em Portugal a quadra dos Santos Populares, que recai no Verão, é festejada com arraiais, bailaricos ao ar livre, fogueiras com balões, marchas com lanternas, descantes, luminárias, etc., essa quadra, recaindo em Goa na época das chuvas, é assinalada de modo tão diverso do de Portugal como variado de Santo para Santo, embora todos três estejam, de qualquer modo, ligados à monção.
Mas em Aldona, vila situada em na região (Taluda) de Bardez, a tradição mantém-se bem próxima da forma como acontecia no passado. O dia de S. João é a grande festa dos genros recém-casados em casa dos
sogros, mavoddeá, em que, antes de um regabofe, com uma coroa na cabeça, dão um pulo ao poço para se banharem, um pulo simbólico do que o precursor teria dado, segundo a Bíblia, no ventre da mãe, Santa Isabel, quando abraçava a prima, a Virgem Maria, trazendo Jesus nas entranhas:
Somos todos nós genros,
Vimos de visita após longo tempo
Por ser hoje festa de São João
Viemos à casa de nossos sogros
Com estas coroas na cabeça
Saímos de casa para tomar banho
Por ser hoje a festa de São João
Estamos tão alegres e contentes!
Aldona foi berço de duas figuras relevantes da diáspora musical goesa: Chic Chocolate, que tocava como um negro, nas notas mais vibrantes ajoelhava-se e apontava o trompete para o céu, e o compositor, cantor e ator Alfred Rose, famoso pelos seus temas em Konkani. No
livro “A Última Dança em Goa: música popular nos últimos anos do Estado da Índia Portuguesa” desenvolvo esta e outra matéria relacionada com a presença portuguesa naquele estado da Índia.
Mas também vale a pena contar a história de Dona Maria Úrsula de Abreu Lencastre, qual Papisa Joana que, por volta de 1700, disfarçada de homem e tomando o nome de Baltasar do Couto Cardoso, assenta praça de soldado em Lisboa. Contava então 18 anos e era natural do Rio deJaneiro e filha de João de Abreu e Oliveira. Parece que o desespero de um amor contrariado a levou a fugir da casa paterna, buscando uma diversão nas aventuras da guerra. Na Índia, a heroína brasileira distinguiu-se entre os mais intrépidos soldados, principalmente na tomada da fortaleza de Ambona (1705) e na conquista das ilhas de Penelem e Corjuem (1706). Muito corajosa, o seu amor por um colega de armas levou a que surgissem situações embaraçosas, que acabaram por se desvendar após a
batalha no Forte de Corjuem, perto da vila de Aldona. Conseguida autorização de D. João V, casaram-se em Goa e a guerreira tornou-se esposa, mas diz a lenda que nunca esqueceu a sua vida anterior e por vezes, em segredo, voltava àquele local.
A vida em Aldona é relaxante, há muitos locais históricos interessantes, longe do buliço citadino. Dizem ser “The Most Beautiful Village In The World”