Chegados ao fim de mais uma campanha eleitoral, não restam dúvidas: o país está cansado. Cansado de promessas que não se cumprem, de discursos inflamados que pouco ou nada dizem e de líderes que confundem agitação com liderança. Esta sexta-feira 16 de maio marca o fim do ruído, o encerramento das caravanas, dos megafones e das arruadas, mas não apaga a responsabilidade que cada eleitor carrega até à urna.
O que vimos nesta campanha foi, mais uma vez, um país dividido entre visões antagónicas. De um lado, o Partido Socialista tenta defender o seu legado, apelando a uma gestão sensata das crises e prometendo correções no rumo. Pedro Nuno Santos posiciona-se como herdeiro do pragmatismo governativo, mas não pode iludir a realidade: o PS perdeu muita da confiança que lhe foi dada. A narrativa de que “com o PS foi menos mau” é um apelo fraco quando o custo de vida sobe, os serviços públicos colapsam e os jovens fogem do país.
Do outro lado, a Aliança Democrática apresenta-se como alternativa, mas fá-lo envolta em memórias que muitos portugueses preferiam esquecer. A presença de Cavaco Silva numa campanha em 2025 é um sinal claro de um partido que olha para trás para justificar o futuro. Luís Montenegro quer convencer o país de que é diferente, mas continua refém de um discurso vago e pouco audaz. A promessa de mudança soa vazia quando não se concretiza num verdadeiro programa reformista e inclusivo.
Mais preocupante, porém, é o espaço crescente que a extrema-direita ocupa. O Chega alimenta-se do descontentamento como um parasita que cresce à custa da fraqueza dos outros. André Ventura não apresenta soluções, apenas inimigos: comunistas, socialistas, estrangeiros, jornalistas, quem discorda. A sua proposta de “reconquista” é uma farsa perigosa, disfarçada de patriotismo. Um país democrático não pode normalizar a retórica do ódio e da exclusão.
A Iniciativa Liberal, com um discurso mais racional, apela a um eleitorado que quer menos Estado e mais eficiência. Mas Rui Rocha peca por falta de empatia social. Fala-se muito em números e pouco em pessoas. Portugal precisa de reformas, sim, mas sem esquecer que há desigualdades estruturais que não se resolvem com teorias de mercado.
À esquerda, o Bloco de Esquerda e a CDU continuam a insistir na coerência e na justiça social. São vozes essenciais no Parlamento, mas não escapam ao desgaste dos anos de apoio ao PS e a uma linguagem que, por vezes, parece desligada da realidade quotidiana. Ainda assim, numa democracia, é vital haver quem lembre que nem tudo pode ser sacrificado no altar da austeridade ou da eficiência.
O PAN e o Livre mantêm-se firmes nos seus princípios, com discursos claros sobre direitos humanos, ambiente e transparência. São forças pequenas, mas necessárias. Representam causas que, embora não deem votos em massa, precisam de estar representadas num Parlamento plural e atento às minorias.
Portugal não precisa de um salto no escuro, mas também não pode continuar a arrastar os pés. O próximo governo tem de ser mais do que uma gestão de calendário. Precisa de visão, coragem e capacidade de diálogo. As maiorias absolutas, felizmente, parecem cada vez mais improváveis. Isso deve ser encarado como uma oportunidade e não como um obstáculo.
Neste domingo 18 de maio, não se vota apenas num partido ou num líder. Vota-se numa ideia de país. Um país que sabe o que custou conquistar a democracia e que não aceita voltar atrás. Um país que quer justiça sem populismo, reformas com responsabilidade, e progresso com inclusão.
Votar é um direito, mas também um dever. Que ninguém o troque por resignação.