E nasceu por acaso. Em 2014 já tínhamos vidas independentes – o Vasco com 28 anos a tentar encontrar seguimento prático ao curso de treinador de ténis e eu a redescobrir o prazer da escrita, depois de ter antecipado a reforma, no rescaldo duma vida que dera muitas voltas. Mas tal não impedia que partilhássemos ideias e projetos (e algumas músicas).
As aulas de ténis eram poucas. A crise financeira tinha deixado o país na penúria e os clubes estavam pouco receptivos a novos treinadores. Aceitou o convite de um amigo para fazer entrega ao domicílio de sushi, negócio que se espalhava pela Europa mas que em Portugal era praticamente inexistente. A empresa estava sediada no Porto, mas tentava alargar o negócio para Lisboa. A entrega era feita num Polo que a mãe lhe oferecera… ainda não existiam em Portugal UberEats nem Glovo e o contingente de motorizadas e bicicletas, como caixeiros-viajantes em miniatura, que inundam as ruas das cidades, só com a pandemia avultaram.
Não era difícil perceber que nas suas aspirações voavam outros horizontes, desejava tarefa mais ligada ao empreendedorismo e à iniciativa inovadora (lembro-me que antecipou o êxito do Pádel, variante do ténis para interior) – uma das suas características é ser determinado, prosseguir objetivos a que se disponha – mas a surpresa foi muita quando me informou, exultante, que ia abrir uma empresa de take away de sushi com amigos, e já tinham nome: Home Sweet Sushi!
Não sei se a ideia surgiu em sonhos ou em conversa com o amigo de há muitos anos, o Fred, ou mesmo se os 11 anos que vivemos em Macau, onde frequentemente íamos a restaurantes japoneses, influenciou a decisão. A verdade é que, depois de várias reuniões, agora num grupo mais alargado, dividindo tarefas e distribuindo responsabilidades, o projeto avançou.
E resultou! Nada entendo de negócios, não tenho a mínima noção dos passos a dar para que uma empresa resulte, mas estou certo que um dos segredos da HSS foi a amizade e confiança entre os sócios. Nunca soube de problemas ou graves tensões, a união que deu asas ao sonho possibilitou que a empresa crescesse e se adaptasse aos desafios dos novos tempos.
Aproveitaram a pequena recuperação financeira do governo pós crise, até o Covid (vejam lá como é a vida!) ajudou ao limitar ir comer fora, rodearam-se de especialistas em markting. Abrem novas lojas por todo o país, inovam nos ingredientes e nos produtos, continuam referência num mercado em franca expansão. Arriscaram em tempos difíceis mas, não há dúvida, o “risco faz parte do negócio”.
Nas minhas visitas ao Japão sempre admirei e saboreei aquelas pecinhas coloridas, dispersas em pequenas caixas vendidas nas estações de combóio, designadas por bento. Quem diria que, vários anos depois, passaria a ser iguaria a desfrutar em casa, “à distância de um clique”?