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Estes Bancos estão loucos

Uma pessoa normal terá uma relação prudente com os Bancos. Quer os de jardim, não vá um pombo tecê-las, como com os do dinheirinho. Falemos dos segundos.

A relação normal será confiar no Banco enquanto o banco confia no cliente. Não suspeita dele. Acarinha-o. Gosta que o cliente lhe confie não apenas o dinheiro, mas também invista, compre produtos financeiros, seguros, etecetera e tal. O Banco até se fez à Internet e aos telemóveis com desenvoltura, para que os clientes pudessem brincar ao dinheiro sempre que lhes desse na gana.

A última vez que abri uma conta num banco passava o ano de 1992. Isto é, há 32 anos. E nunca mais quis aventuras com a banca. Tenho uma relação irracional com essas instituições cujo objetivo é vender dinheiro e ganhar dinheiro com a venda de dinheiro. Sim, tal como uma empresa de água mineral fabrica garrafas e não água, o banco fabrica dinheiro por causa dos clientes. Só tendo clientes é que pode emprestar dinheiro (ou, melhor dito, vender dinheiro). É um pequeno fenómeno que se chama de «alavancagem» e sobre o qual, um destes dias, falaremos.

Mas vamos à história do dia. Anteontem, com uma familiar próxima, dirigi-me à Caixa Geral de Depósitos, banco de capitais públicos dirigido pelo senhor das missas, que tem como dever prestar um serviço universal bancário aos portugueses. O que íamos fazer? Abrir uma conta, coisa simples. No ido de 1992 lembro-me de ter demorado uma meia hora para fazer isto. Assinei papeis que não acabavam e, depois de enfiados cem contos na nova conta, ei-la fresquinha e pronta a usar. Nada de dramas.

Pois anteontem, na tal CGD, sentámo-nos e a senhora bancária perguntou ao que íamos. Dissemos. Resposta pronta da porta-voz da Caixa Geral de Depósitos: “Muito bem. Então vamos fazer a marcação”. Perdão? A marcação? De quê?

Volta a senhora bancária: “Só temos vagas em Janeiro”. Comecei a rir que nem um perdido. A moça, do outro lado da modernaça mesa, com um modernaço computador, uma modernaça maquiagem e um modernaço cérebro desentendia porque ria eu. A minha familiar próxima queria protestar, mas levantei-me e disse-lhe: “Anda, Mãe, estes senhores não querem clientes. O Dr. Paulo Macedo ainda se arrisca a ter lucros e a pagar dividendos ao Estado e é uma chatice. Vamos ali ao outro lado”. E fomos, apesar da minha mãe próxima querer regressas aos seus velhos tempos de MDP/CDE e começar a “acção directa” contra a Caixa.

O BPI era ali mesmo ao lado. Entrámos, perguntámos se se podia abrir conta no próprio dia (?) e a senhora, já com ar distinto e não de arranjo florar de plástico, disse: “Sim, mas para que é, a conta?”. Hein? “É uma conta à ordem, banal, com dois titulares”. E a senhora insistia se íamos comprar investimentos, seguros, cartões, selos, carrinhos de corda, eu sei lá… A minha familiar Mãe fazia-lhe perguntas já da órbita de Saturno e eu, pimba, lá me desatei a rir outra vez. Até ouvi um “Oh João, isto é sério!” Da minha próxima Mãe, mas respondi entredentes: “Não, não é. É um Banco, não pode ser sério” … Depois dos sustos e de nos ter sido dito quanto custava a taxa de manutenção de conta, lá arrastei minha Mãe familiar e saímos, para a calçada da indignação. “E agora?”, ouvi.

Agora estávamos tramados. Onde, mas onde é que, já àquela hora, se abria conta? Ainda fui ver os balcões abertos “até mais tarde”, mas a comandita só tem essas coisas em centros comerciais monstruosos, onde não entraríamos. Até que me lembrei dos CTT. Esses tinham inventado um banco. Lá fomos, lá correu tudo bem, passámos por uma senhora muito simpática e por outra que em vez de comprar lenços de assoar, assoava-se aos dedos, e muito, para depois por em cima da verdasca quatro bombadas de álcool-gel, e fazer uma papa que lhe ficava no nariz, escorria pelo queixo e se aglomerava também nas mãos, de onde pendia bacteriana e azulada, por cima das rubras unhas de gel em cunha.

Há bocado liguei para a linha de apoio. O banco via Internet não funcionava. Falei com uma pessoa que não se sabia expressar e demorei dez minutos a perceber que a menina das unhas de ranho não tinha carregado num botão, portanto o ‘homebanking’ não estava a funcionar. Não me admira. Aquela pasta manhosa de gel de ranho e álcool deve ter dado cabo de alguma coisa no teclado.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista 2554, autor de obras de ficção e humor, radialista, compositor, ‘blogger’,' vlogger' e produtor. Agricultor devido às sobreirinhas.

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