É uma notícia que, a esta altura, já circula como uma verdade incontestável pelos cantos da cidade: o Crazy Bowling, um dos poucos pontos de lazer que ainda ressoava no Centro Comercial Alegro, fecha portas no próximo dia 16 de janeiro. O motivo? Não houve acordo entre a gerência e a administração do centro comercial, e a sua substituição será por algo… bem menos excêntrico: o Espaço Casa. E com este encerramento, surge novamente a pergunta que parece nunca querer calar-se nas ruas de Castelo Branco: Quando é que esta cidade vai deixar de ser uma eterna obra inacabada, a viver de retrocessos?
Claro que, em tempos de notícias rápidas e campanhas de desinformação, a culpa acaba sempre por cair sobre quem está à frente do poder político local. O Presidente da Câmara, o Presidente da Junta, todos eles recebem, invariavelmente, o fardo de uma culpa que nem é deles, mas que se destina àqueles que, por pura conveniência, insistem em fazer de conta que estão a fazer alguma coisa. O encerramento de um espaço comercial, onde deveria existir uma reflexão sobre soluções inovadoras e práticas para o progresso da cidade, não pode, nem deve, ser visto como um simples encerramento de portas.
O que é, na realidade, um sintoma de um problema muito mais profundo: a incapacidade da cidade de criar um ambiente propício à prosperidade. A Câmara Municipal tem, ou deveria ter, um papel fundamental nesta equação. Não se trata apenas de lamentar os encerramentos ou a perda de emprego, mas de tentar desenhar soluções que tornem a cidade atrativa para quem quer investir, quer criar, quer desenvolver algo que respire inovação e oportunidade.
Em vez de se contentar com a falácia de que tudo deve ser deixado ao arbítrio dos centros comerciais, a Câmara de Castelo Branco deveria dar o primeiro passo e ajudar a reverter esta tendência de fecho de espaços comerciais. Como? Com medidas simples, mas eficazes. O Município deveria ser o primeiro a dar o exemplo, através da redução dos valores das rendas que cobra pelos seus próprios espaços comerciais, incluindo bares, restaurantes e cafetarias, cujas rendas parecem mais com as de um centro de Lisboa do que de uma cidade do interior. O que é que se espera com esses valores exorbitantes? Que alguém com visão e coragem decida investir? Ou talvez, como parece mais provável, que todos fechem portas à espera que a cidade se resolva sozinha?
É um ciclo vicioso. Os preços das rendas praticados são absurdos, levando a que, em vez de atrair mais investimento, o que acontece é que espaços como as “Docas” na Devesa permanecem fechados, ou então, quando abertos, são ocupados por empresas que nada acrescentam à cidade. Não seria mais lógico que o Município interviesse, criando um quadro de rendas mais acessíveis para os empresários? A cidade não precisa de mais centros comerciais, de mais “Espaços Casa” ou de mais franquias sem identidade. Precisa, sim, de iniciativas genuínas, de pequenos e médios negócios que, com o apoio certo, possam florescer.
A política local, em vez de continuar a manter-se enclausurada na sua eterna desculpa de “não podermos fazer nada”, deveria criar um ambiente em que os espaços comerciais possam ser ocupados a preços justos, que garantam a viabilidade dos negócios, o emprego e, claro, a alma da cidade. Porque não é a falta de lugares para ir às compras que assusta os habitantes de Castelo Branco; o que assusta, isso sim, é ver que a cidade vai morrendo aos poucos, sem que nada se faça para mudar esse rumo.
E enquanto isso, a cidade vai ficando cada vez mais um reflexo das suas próprias falhas. O Crazy Bowling fecha, mas a indiferença e o desinteresse pela revitalização urbana continuam a abrir brechas nas ruas. A política local, quando não se alinha com as necessidades dos seus cidadãos, faz com que a cidade continue a ser, simplesmente, um palco onde todos os erros se repetem. O que é preciso, talvez, não seja um outro Espaço Casa, mas uma cidade com uma visão clara de futuro, onde o passado não se perpetue nas rendas, mas se resolva na ação.