Meus pais sempre tiveram horta, talvez porque eram de Monsanto e aí é fundamental tê-la, talvez porque economicamente era vantajoso, talvez até porque estavam convencidos que se vissem ou/e tivessem intervenção directa no que produziam para comer era mais saudável. Sempre tiveram galinhas e coelhos, mas era complicado (por razões de espaço).
Nunca os vi colocarem qualquer tipo de produto nas inúmeras variedades de fruta, legumes, ou na comida dos animais, a não ser as omnipresentes sêmeas que amassadas com tudo o resto – restos de hortaliça, talos e quejandos – abrilhantavam o menu de galinhas, patos e coelhos.

Em Monsanto, tirando o comprimido para as vinhas terem produção mais consistente também me passou sempre ao lado a intervenção química no sucesso da horta e da criação de animais.
O azeite, esse óleo fundamental na nossa mesa, também não me recordo de ouvir falar que as oliveiras precisavam de incentivos químicos para se portarem bem e darem o azeite que tanta falta nos fazia. A produção andava sempre nos 100 litros/ano, mais coisa menos coisa.
Na minha vida recente de autarca e candidato, deparei-me com outra realidade: a agricultura a sério, industrial de forma económica. E o uso de químicos mas nada que me escandalizasse.
Eis senão, que aparece o Biológico.
Devo dizer em abono da verdade, que muitos amigos meus, agricultores, se preocupavam com a produção biológica e dois em especial tinham responsabilidades profissionais na área.
Tenho um amigo de longa data que, sendo citadino mas nascido em Monsanto, faz agricultura biológica à séria há mais de 15 anos.
Portanto, o aparecimento do Biológico foi uma surpresa.
Mas quem é este, perguntarão.
Não tendo concluído o que quer que fosse, ainda andou a passear os livros pela escola agrária, quando ia a Castelo Branco. É sobretudo licenciado, mestrado e doutorado pela universidade da vigarice e da trapaça. Sem perceber nada de coisa nenhuma e, tendo de agradar ao mestre e padrinho, vai inventando umas pilhérias.
A última, apareceu-lhe um gaulês já no inverno da vida e contou-lhe uma estória: epá, vamos fazer aqui uma coisa em grande, ligada às coisas modernas e agora em grande discussão. Agricultura biológica e fazemos assim como que uma demarcação. Uma coisa em grande e sobretudo de forma a que o referido reformado gaulês arredonde bem a sua reforma.
Duas contradições numa.
A agricultura gaulesa caracteriza-se por ser altamente subsidiada, completamente de pesticidas e fármacos afins de forma a intensificar a produção e ser monumentalmente subsidiada.
O famoso mentor biológico, nem tinha ligações à agricultura nem percebe nada do assunto. Neste último ponto, ele e o biológico estão no mesmo pé de ignorância.
Mas vejamos, para alguma coisa em agricultura ser produtiva tem de ter zonas de produção, zonas de preparação e sobretudo zonas muito compartimentadas de funcionamento.
A agricultura biológica de Idanha-a-Nova tem uma área menor que 100 hectares, menos do que uma quinta média no regadio e impossível de ser viável, mesmo com forte subsidiação.
Depois dos japoneses e das quatro viagens ao país do Sol Nascente, depois do flop turístico, restava pouca coisa a que se agarrar para aparecer e torrar dinheiro.
Eis o Biológico que é uma coisa que nem o próprio sabe muito bem o que é.
E o Geopark? Bom esse está naquela lógica de brinquedo muito usado.
Serviu para o mentor ter doutoramento e mestrado, que de outra forma era impossível, muitas viagens ao edil ainda como vice-edil, mas agora é um brinquedo estafado.
O Biológico até lhe permitiu ser dono de uma herdade de todos nós mas de uso privado, onde faz queijo e compra e vende prémios por atacado, só falta mesmo empregar o pífaro para a coisa se parecer muito com a Ligeireza do passado.
Quanto à melancia, coisa de outros e estafada.
Agora é tudo Biológico.